Em um ritual doméstico, a avó da artista dá voz e passagem ao caboclo Indaia, seu guia e parente espiritual, que nos convida à comunicação com outros familiares consanguíneos e mais-que-humanos. Ela narra o seu encontro, no passado, com essa entidade espiritual ameríndia, presente nos espaços das espiritualidades afro-brasileiras. O termo caboclo, aqui evocando espíritos de curandeiros ligados ao povo das matas e ao orixá Oxóssi, podia ser usado, em um contexto colonial, em referência a indígenas escravizados, catequizados ou de linhagem mestiça, em oposição àqueles que escaparam à assimilação e à cristianização. Esse encontro torna-se o plexo narrativo a partir do qual histórias multigeracionais emergem como enigmas para habitar entre mundos. Ampliando o campo relacional em torno da ideia de visão, a obra se desdobra em uma janela de interação entre o visível e o que não se vê. A retórica da reparação é analisada em meio à intimidade das relações familiares e dos segredos que unem essas mulheres através das gerações.