Séculos de história afloram das imagens, estáticas ou em movimento, apreendidas por Eustáquio Neves. Rituais de passagem, sincretismos, a reprodução da vida e a manutençãoda cultura negra resguardada em comunidades quilombolas do interior do Brasil sustentamo fio carregado de simbolismos com que o artista mineiro tece uma obra composta de resistência, denúncia e memória.

Autodidata, Nevesfoi premiado pelo Programa Videobrasil de Residências no 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil (2007), reconhecimento que o levoua passar, em 2008, uma temporada de seis semanas de criação e estudos na WBK Vrije Academie, sediada em Haia, na Holanda. Lá desenvolveu o vídeo Dead Horse, em que relaciona os primórdios do cinema com o estado atual da produção cinematográfica, projeto que será concluído até o final do ano.

Contemplado com o Prêmio Especial Porto Seguro de Fotografia (2004) e o 7º Prêmio Marc Ferrez de Fotografia (1994), entre outros, Neves também realizou residência, há dez anos, no Gasworks, em Londres, onde sua câmera passeou pelos vestígios cotidianos que as raízes africanas imprimem na vida dos negros ingleses.

“Existe umaligação muito forte entre a África e a diáspora, mesmo em pequenos gestos, em qualquer parte do mundo”, diz o artista, em entrevista ao Dossier.

Em seu mais recente trabalho,ele desloca o olhar das influências materializadas forada África para a realidade atual da matriz negra: o foco é a turbulenta realidade de Lagos, na Nigéria, traduzida no vídeo Post No Bill, iniciado neste ano e que ganhará um segundo episódio.

De acordo com o crítico Eder Chiodetto, os trabalhos de Neves “mostram um artista complexo com extrema habilidade para verter em atmosferas, texturas e cores difusas sua consciência crítica e histórica”, segundo aponta em Ensaio sobre o autor.

Fotógrafo e curador, Chiodetto aponta ainda que “a forma de pensar o processo de obtenção, intervenção e edição de imagens” desenvolvida por Neves, “seja nas séries fotográficas ou em sua produçãomais recente, que tem gerado uma seleção instigante de trabalhos formatados em vídeo, traz à tona um editor de mundos. Olhos, coração e mente na busca obsessiva (…) de significados para o fluxo interminável de informações a que estamos submetidos na contemporaneidade”.

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