O programa elaborado por Piotr Krajewski e Sherill Howard Pociecha foi feito, a partir dos trabalhos poloneses premiados no WRO 89 Sound Basis Visual Art Festival, que reuniu obras que integravam música e outras formas de arte.

Artistas

Obras

Texto de curadoria Piotr Krajewski, 1990

Sombra e Luz

Nossa seleção compreende, em parte, os trabalhos poloneses premiados no WRO 89 Sound Basis Visual Art Festival, que reúne trabalhos integrando música e outras formas de arte. Os dois primeiros foram elaborados segundo requisitos do Grande Concurso do Festival, que exigia uma produção em vídeo baseada em uma composição musical específica. No Festival do ano passado, era uma peça do falecido jazzman polonês Krysztof Komeda. E, por uma coincidência, os dois trabalhos utilizam a mesma composição.

O primeiro prêmio foi atribuído ao trabalho do Jan Brzuszek, “Dokad Prowadzi Ta Droga”. A música de Komeda propicia uma surpreendente estrutura natural para a “narração” da história e para o seu clímax. A transição de uma forma abstrata para uma forma concreta, aliada a uma combinação do pensamento analítico com uma história bem humorada, confere ao trabalho a força de um tratado filosófico.

Rafal Boguslawski, que ganhou o segundo prêmio no concurso com o seu trabalho “O”, apresenta uma composição de sombra e luz internas e externas, conforme o posicionamento da câmara dentro de uma enorme tubulação. O contraste entre dois trabalhos, inspirados na mesma trilha sonora, além de constituir virtualmente um “manual” que guia o olhar para a coordenação do som e da imagem na criação de uma forma de arte em vídeo, também sublinha as diferenças de posicionamento artístico, oscilando entre execução e percepção.

Outros dois trabalhos de artistas poloneses foram premiados no concurso do WRO 89. “RAJ 69”, de Miroslaw Emil Koch, é um trabalho resultado do fascínio do artista pela música do Kormorans - um grupo de vanguarda da cidade de Wroclwn. O filme, característico de uma escola polonesa de videoarte, baseia-se em material filmado com uma câmera Super-8, montado e depois regravado em videocassete para finalmente ser retrabalhado por métodos característicos do vídeo.

Krzysorf Skarbek é um pintor que com frequência também encontra sua expressão através de atividades parateatrais e musicais. “Nasz Beton Aront” é uma síntese desses campos de interesse. Inicialmente analítica, essa tentativa “midialinesca” de descrever um determinado panorama que existe na realidade, e sua interpretação quase gráfica, metamorfoseiam-se no trabalho caracteristicamente neo-expressionista do artista, que constrói a sequência de uma situação a partir de uma associação entre trípoles de concreto e totens primitivos.

Gostaríamos de fazer uma menção especial aos trabalhos de Miroslaw Koch, Wojciech Maria Wojcik e Jacek Ponton Jankowski, além dos músicos e integrantes do Kormorans. O que eles criaram resultou numa tentativa de travar em múltiplas etapas um diálogo com a Historia, à procura das formas de pensamento que supostamente se acham preservadas dentro do espaço  e da matéria das pedreiras - o local trágico dos trabalhos forçados e das exterminações de prisioneiros  durante a II Guerra. A música e a “presença sensível” pretendem se render à energia do local, deixando que este se molde e module na fita gravada. O filme é a etapa final de um esforço para sondar os mistérios da essência, por meio da elaboração de um vídeo em múltiplos estágios.

Na forma em que está sendo apresentado, “Kormorany” é uma condensação de cinco anos de trabalho de documentação do artista sobre suas atividades em parceria com os Kormorans. Compreende duas sequencias principais: imagens improvisadas para uma câmara, ao vivo, durante um concerto realizado na sala de espera de uma estação de trem; e as atividades inesperadas de um batalhão do corpo de bombeiro atraído pela fumaça que escapava do sótão durante outras apresentações.

Entre os dois trabalhos de Koch, para proporcionar um contraste e uma mudança de clima, propomos o trabalho de filmagem de um outro artista. “Bogiuslaw Schaffer” é um filme que nasceu do confronto de duas personalidades: a de Margorzata Potocka - autor, diretor e produtor de filmes, vídeos e concertos - e a de Boguslaw Schaffer, um compositor de música clássica contemporânea, autor de textos teóricos e de peças teatrais que fazem comentários insidiosos sobre o papel ambivalente dos artistas, da arte contemporânea e da teoria da arte.

 Piotr Krajewski (com Sherill Howard Pociecha)

8th Fotoptica Internacional Video Festival. 09 a 15 de Novembro de 1990. p. 71.