Os últimos dez anos foram marcados pela expansão do uso da informátca em nosso cotidiano e pela explosão do que chamamos "Novas Imagens", ou seja: imagens geradas por computador. Com a aproximação do ano 2000, elas fazem parte de uma verdadeira competição econômica por um mercado do qual não conhecemos bem os limites. O Japão, os Estados Unidos e a França são os três países que mais se desenvolveram nesta área e que possuem os equipamentos e os recursos mais sofisticados.
Se por um lado essas novas imagens anunciam uma indústria em pleno crescimento, elas também revelam um imaginário dos mais surpreendentes e dão a certos artistas a possibilidade de inovar formas, modelar uma matéria inédita, refletir outra realidade e, sobretudo, acrescentar uma grande esperança à seus sonhos. Depois dos "Cantos Magnéticos" eis os "Cantos Numéricos" ou a poesia do futuro.
A mostra teve exibição no SESC Pompéia e na Aliança Francesa, com um total de 11 horas de programação. Os trabalhos exibidos no SESC Pompéia foram divididos em 10 programas: 1. Vencedores Pixel/Imagina (1986/199); 2. Prêmio Pixel/Imagina (1992); 3. A imagem em todos os seus estados (1986/1991); 4. Produções francesas (1991/1992); 5. Plano pesquisa imagem (1984/1991); 6. Créditos e vinhetas (1989/1991); 7. Publicidade (1989/1990); 8. Computer Arts e arquitetura; 9. Escolas e Universidades; 10. Michel Bret. Já na Aliança Francesa, as obras se dividiram em 2 programas: "Avance sur la image no16" e "Imagina 90"; "Théières after" e L'Oeil du Cyclone 92".
Artistas
- Andrew Stanton
- Antony Huerta
- Armand Fellous
- B. Sabiston
- Berkovsky Barret
- Bill Kroyer
- Brett Leonard
- Bruno Simon
- C. Guillon
- Cécile Babiole
- Christian Heinz
- Daniel Borenstein
- Elena Chiesa
- Emmanuel Jarry
- Fantome
- Franck Clement-Larosiere
- François Garnier
- François Manavit
- Frédéric Durand
- Frédéric Nagorny
- G. Miller
- Gavin Miller
- Geoff Campbell
- George Le Piouffle
- Georges Joblove
- Hélène de Thélin
- Inigo Rotaetxe
- James Duesing
- Jean-Jacques Leduc
- Jean-Michel Germys
- Jérôme Lefdup
- Jerzy Kular
- Joan Staveley
- John Lasseter
- Johnson-Throssel
- Karl Sims
- Kleiser-Walczak
- M. Withney
- Marc Caro
- Marc Druez
- Matt Elson
- Matt Forrest
- Maurice Benayoun
- Mc Kenna
- Michael Girard
- Michael Kass
- Michael Tolson
- Michel Jaffrennou
- Michel Bret
- Nancy Kato
- Pascal Roulin
- Pascal Vuong
- Peter Day
- Philippe Billion
- Philippe Callemant
- Philippe Marty
- Richard Dean
- Robert Lurye
- Sam Richrads
- Sharon Calahan
- Steve Goldberg
- Susan Amkraut
- T. Kawahara
- Taira Masaaki
- Todd Ruff
- Wand Eku
- William Latham
- Win Wenders
- Yoichiro Kawaguchi
Obras
- "Shippers"
- 10 ans Pompidou
- 1001 nuits
- A Propos
- Access
- BBL Rroviennes
- Begonia
- Bell Atlantic
- Cobra
- Coredump
- Excalibur
- Flying Logos
- Grinning Evil Death1991
- Illusion
- Kaleidoscope
- L'essor des Biotechnologies
- L'unique
- La Légende
- Le Chant des Étoiles
- Le Corbusier
- Le Flipper
- Le Port Impérial
- Le réveil
- Le Triangle des Bermudes
- Leonard, Euclide et les Autres...
- Les Trois Chanteuses
- Levante
- Mise en Seine
- Mississipi-Groenland
- Norfolk Southern Railroad
- Once Shampoo
- Orangina Light
- Osmanli Bankasi
- Palau
- Paris Trome L'Oeil
- Pygmalion
- Qu'est-ce que tu es belle
- Robochrom
- San Siro
- Segreterie Telefoniche
- Sunbeam
- Tancrede Le Croisé
- Terminus
- Tuborg
- Variation
- Villette
- Voyage Imaginaire
- Wordsmith
- Romeo Et JosetteAdis, Dimension, 1991
- Luxo JR In "Surprise" And "Light&Heavy"Andrew Stanton, John Lasseter, Pixar, 1992
- La Guerre de PoilsAntony Huerta, 1992
- Her Majesty's Secret SerpentApple, G. Miller, Michael Kass , 1990
- The AuditionApple, Gavin Miller, 1991
- Splash DanceApple, Michael Kass
- Lune de MielArmand Fellous, Institut National de l'Audiovisuel, 1992
- AntennaBBC British Broadcasting Corporation, 1989
- ChronicleBBC British Broadcasting Corporation, 1991
- Topp'sBSCA
- Yoplait 1Berkovsky Barret, 1989
- Yoplait 2Berkovsky Barret, 1990
- Technological ThreatBill Kroyer, 1989
- The Lawnmower ManBrett Leonard, 1992
- Invitacion au VoyageBruno Simon, 1992
- ShéhérazadeC. Guillon, Ex Machina, 1990
- Poroit TitlesCFP, 1989
- AutomappeChristian Heinz, Michel Bret, 1989
- NydacimChristian Heinz, Michel Bret, 1991
- SauteChristian Heinz, Michel Bret, 1989
- TacautoChristian Heinz, Michel Bret, 1991
- Padova 2000Christina Molon, Flavio Frassinelli
- Galicia no TempoComputer Art Development, 1991
- L'Art en Jeu "Pepin Geant" de ArpCécile Babiole, 1992
- Les Xons "Baston"Cécile Babiole, Mac Guff Ligne, 1992
- Les Xons "Crac Crac"Cécile Babiole, Mac Guff Ligne, 1992
- Rien Qu'un SuffleDaniel Borenstein, P. Levy, 1992
- Green Movie MovieElena Chiesa, Todd Ruff, 1991
- L'Appel Du FeuEmmanuel Jarry, Franck Clement-Larosiere, Frédéric Durand , 1992
- TGBEx Machina
- Villa VarlinEx Machina
- Bee a WinnerEx Machina, Frédéric Nagorny, 1992
- Ariane et le MinotaureEx Machina, Hélène de Thélin, Michel Jaffrennou, 1990
- Sub Oceanic ShuttleEx Machina, Iverks, Jerzy Kular
- Proteo 164Ex Machina, Pascal Roulin, 1992
- Blue MantaEx Machina, Philippe Billion, 1990
- L'AbeilleEx Machina, Philippe Billion, 1990
- Penguin BluesEx Machina, Philippe Billion, 1992
- Le Cirque ConferenceEx Nihilo, Marc Caro, 1990
- La Maison qui Grandit Avec la FamilleFantome
- La Tortue et les Deux CanardsFantome, 1991
- Le Grand Ouah, OuahFantome, 1990
- Le Lion et le MoucheronFantome
- Le Serpent et la LimeFantome, 1992
- Don QuichotteFrançois Garnier, 1991
- Passion FodderFrançois Manavit, 1990
- Le PantinFrédéric Nagorny, 1991
- TreadmillGeoff Campbell, 1990
- Nature MorteGeorge Le Piouffle, 1990
- The AbyssGeorges Joblove, ILM, 1990
- Lost AnimalsHD/GC New York, 1992
- Tipsy TurvyIBM Thomas, 1990
- Terminator 2ILM, 1992
- The Great Artists in the World of ComicsInigo Rotaetxe, 1992
- Maxwell's DemonJames Duesing, 1992
- Les Mirroirs Du TempsJean-Jacques Leduc, Office National Du Film Du Canada, 1992
- Les MonstresJean-Michel Germys, 1992
- Broken HeartJoan Staveley, 1989
- Wanting For BridgeJoan Staveley, 1992
- KnickknackJohn Lasseter, Pixar, 1990
- Luxo JuniorJohn Lasseter, Pixar, 1986
- Red's DreamJohn Lasseter, Pixar, 1989
- Tin ToyJohn Lasseter, Pixar, 1989
- Day BreakJohnson-Throssel, 1992
- L'Oeil Du CycloneJérôme Lefdup, 1992
- PanspermiaKarl Sims, 1991
- Particle DreamsKarl Sims, 1989
- Primordial DanceKarl Sims, 1992
- The AstronomersKleiser-Walczak, 1992
- Smarties ILambie-Nairn
- GeneseLaurent Lucas, Pascal Bigorne
- The NatureLinks Corporation, 1991
- Leonardo's DelugeM. Withney, 1990
- Chic PlanéteMac Guff Ligne, 1987
- MazdaMac Guff Ligne
- Peugeot 106Mac Guff Ligne, Philippe Callemant, 1992
- Jusqu'au Bout du MondeMac Guff Ligne, Win Wenders, 1992
- Le TopologueMarc Caro, 1988
- L'Homme ObliqueMarc Druez, 1992
- The Little DeathMatt Elson, 1990
- Virtually YoursMatt Elson, 1992
- Smarties "Gremlins"Matt Forrest, 1990
- WiredMatt Forrest, 1990
- Les QuarxsMaurice Benayoun
- EurhythmyMichael Girard, Susan Amkraut, 1990
- Wet ScienceMichael Tolson, 1991
- VideopéretteMichel Jaffrennou, 1990
- 9600 BaudsMichel Bret, 1983
- Animation RealisteMichel Bret, 1983
- AnyfloMichel Bret, 1986
- AssemblagesMichel Bret, 1983
- Deux MotsMichel Bret, 1983
- ElorapMichel Bret, 1992
- ESSAI 3DMichel Bret, 1983
- ESSAI 82Michel Bret, 1982
- MetamorphoseMichel Bret, 1992
- Pseudo 3DMichel Bret
- StadeMichel Bret, 1982
- Synthese Digitale 1Michel Bret, 1981
- Synthese Digitale 2Michel Bret, 1981
- Study of a Numerically Modeled Sever StormNCSA, 1990
- Visions From The AmazonNancy Kato, 1991
- Little LondonOrtsmans Young
- ABC Morph "My Life & Times"Pacific Data Image, 1992
- ExxonPacific Data Image, 1992
- Scrubbimg BubblesPacific Data Image
- Shick FacesPacific Data Image, 1992
- The WavePacific Data Image
- LocomotionPacific Data Image, Steve Goldberg, 1990
- Invisible Man in Blind LovePascal Vuong, 1991
- DinosaurPeter Day, 1992
- Xanadu CityPhilippe Marty, 1992
- EducationalRAI SAT, 1991
- Sacree SoireeRIFF, 1991
- AristonRichard Dean, 1992
- Dirty PowerRobert Lurye, 1990
- Sam's WaterSam Richrads, 1992
- Night CafeSharon Calahan, 1990
- Walk in a Straight LineSnapper
- In Search of Muscular AxisT. Kawahara, 1991
- Inter Galactic TravelTaira Masaaki, 1992
- UberduckThe Computer Film Company, 1990
- On The RunThe Leg Laboratory, 1992
- Wow WowTodd Ruff, 1992
- Mono Rail CityVictor Ye
- Poems of Ernst JandiWand Eku, 1992
- A Sequence from the Evolution of FormWilliam Latham, 1990
- FestivalYoichiro Kawaguchi, 1992
- FloraYoichiro Kawaguchi, 1990
Texto de curadoria Jean-Marie Duhard, 1992
Não há arte sem tecnologia
O percurso de Michel Bret é híbrido: ao mesmo tempo que estuda matemática, pinta. Pinta muito, à óleo. Durante sete anos corre o mundo. "Para conhecer um lugar é preciso trabalhar nele" - diz. Leciona matemática e pinta. Expõe e vende alguma coisa. Volta à França e ocorre seu encontro com computador, na universidade Paris VIII, em 1975. É a luz: matemática e pintura se encaixam perfeitamente.
Primeiro a técnica. Como em qualquer disciplina, a técnica é necessária. "Para realizar algo, é preciso saber algo" - afirma - "todos os pintores foram técnicos. Saber desenhar, escolher os pigmento, são coisas que se aprende. Mesmo achando que o lado artístico deve prevalecer sobre o lada técnico. Então, mãos à massa, e comecei a aprender. Os softwares disponíveis não preenchiam meus sonhos. Tinham sido feitos por engenheiros para artistas. Isto ainda é verdade: os softs existentes no mercado - Explore, Alias ou Wavefront produzem suntuosas imagens planas. É uma opção plástica como outra qualquer, mas que força o artista ao mesmo molde. Tentei, então, construir minhas ferramentas, em busca de estilo pessoal. Escrevi em linguagens mais próximas do sistema operacional, o que permite acrescentar linhas ao programa até o infinito, para criar o próprio sonho. Mas essas linguagens são implacáveis: se esquecemos um parêntese, nada mais funciona. É o beug e eu o utilizei muito".
"Na pintura você borra, quer apagar o borrão e logo pensa - 'mas é magnífico!… e logo o amplia, e o quadro muda. Em informática le beug, o erro, pode ser criativo. É preciso apenas mediatizá-lo, revestí-lo, dominá-lo, senão, é apenas um erro físico que pára tudo. Tenho um relação muito prática com a tecnologia. Ela é, para mim, como o barro ou mármore para o escultor, como a tela ou os pigmentos para o pintor. Para fazer imagens eletrônicas é preciso além de máquinas, fazer algo com as próprias mãos. É preciso fabricar, moldar a natureza. É preciso fazer alguma coisa física. A tecnologia é o lado hard da criação. Não há arte sem tecnologia. Não há pensamento sem palavra. Até mesmo os poetas produzem um texo, afinal".
É urgente, para Michel Bret, desmitificar a ferramenta. O computador não é um deus. É apenas uma máquina que pode nos revelar a nós mesmos. Um estudo recente constatou que as crianças com bloqueios escolares ou sociais, progrediram quando colocadas diante de computadores, porque seus bloqueios ou inibições se originavam, de fato, em relacões psicológicas difíceis com professores ou familiares. A máquina não lida com psicologia, nem com afeto. Quando se erra, é preciso procurar a solução. Com a máquina, não existe amor.
Michel Bret tem esperança que um dia o artista use seu instrumento para outra coisa. Pois, com nossas máquinas, contiunuamos a imitar. Não há, de fato, liberdade de criação. "Liberdade de criação é: dar outro fim às coisas, diferente daqueles para os quais foram criadas" - afirma - "ter regras, para poder transgredí-las. Isto é poesia. Em meus trabalhos há muitas histórias. Uma história é lógica, uma anedota é lógica e existe, evidentemente, para dizer outra coisa. Não posso contar o que é essa outra coisa. A gente vê, a gente sente. Se eu o dissesse, seria apenas mais um truque, para dizer ainda outra coisa. Para mim, as imagens sintetizadas da computer art tem um grande futuro, apesar do silêncio dos críticos de arte. Eles não viram no século IX as primícias do Impressionismo. Hoje, cometem o mesmo erro - é normal. Mas eu acho que a computer art vai nos surpeender, pois há novas técnicas pouco conhecidas: as realidades virtuais, que vão criar uma ruptura radical com os modos de representação tradicionais. Não haverá mais, talvez, a obra - o conceito de original tende a desaparecer. Isto põe o artista na berlinda. Ele não poderá mais posar de artista, com A maiúsculo. As viagens me permitiram ver a relatividade de todas essas coisas. Tenho uma relação muito forte com mundo. Quem quer satisfazer sua curiosidade tem que trabalhar, ir fundo. Quando abrimos os olhos, não vemos nada, não há nada para ver. É preciso inventar o que queremos ver. Tudo se passa na cabeça".
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "9º Festival Internacional Videobrasil": de 21 a 27 de setembro de 1992, p.55-56, São Paulo-SP, 1992.
Links
- Franceses revelam o futuro no Videobrasil, por Antonio Gonçalves Filho (FSP, Ilustrada, 22/09/1992)http://acervo.folha.com.br/fsp/1992/09/22/21