Texto de curadoria Solange Farkas, 2015

Sutil Sintonia

O viés geopolítico que aproxima regiões de passado colonial em um heterogêneo conjunto de sotaques afins é uma ideia que guia o Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil desde os anos 1990. O 19º Festival dedica-se inteiramente a colocar em diálogo vertentes diversas da produção recente desta região simbólica. Os Panoramas do Sul se estendem, assim, a três exposições, que reúnem obras selecionadas a partir de convocatória aberta, projetos que o Festival escolheu para comissionar e trabalhos de cinco artistas convidados: o malinês Abdoulaye Konaté, os brasileiros Sônia Gomes e Rodrigo Matheus, o português Gabriel Abrantes e a marroquina Yto Barrada.

A fina complementaridade deste conjunto de conteúdos resulta do trabalho dos curadores convidados Bernardo José de Souza, Bitu Cassundé, João Laia e Júlia Rebouças, pela primeira vez responsáveis pelos três segmentos expositivos do Festival. O edital para comissionamento de projetos, que amplia o espectro de ação do Videobrasil e dá novo sentido a sua pesquisa curatorial, e o lançamento do primeiro livro da série Panoramas do Sul | Leituras, com ensaios dedicados à ideia do Sul geopolítico na arte, são outras mudanças importantes na estrutura desta edição do Festival. O 19º Videobrasil marca, ainda, a abertura do Galpão VB, espaço que passa a abrigar uma série de atividades permanentes de pesquisa e ativação do Acervo Videobrasil. As exposições e programas de filme do Festival se dividem entre o Sesc Pompeia e o Galpão VB, assim como as atividades, encontros e ferramentas que ativam e exploram suas exposições, incluindo oficinas, conversas, visitas, programações on-line e o seminário Lugares e sentidos da arte: debates a partir do Sul. A mostra paralela Quem nasce pra aventura não toma outro rumo, que ocupa o Paço das Artes no período do Festival, reúne uma seleção de obras do Acervo Videobrasil que, de alguma forma, reverberam os temas dos Panoramas do Sul. A curadoria de Diego Matos reafirma a política de reforçar o diálogo entre a coleção e a produção contemporânea.

Para além de um conjunto coeso, o que resulta da experiência de dedicar o 19º Festival à produção do Sul é um panorama instigante das estratégias, contranarrativas e indagações que, muitas vezes em sutil sintonia, artistas de trajetórias mais e menos consolidadas mobilizam para confrontar a realidade contemporânea.

Texto institucional Danilo Santos de Miranda, 2015

Arte que Instiga e Exaspera

Indiferença e conformismo tendem a ocultar certo mal-estar provocado pelas múltiplas demandas da vida contemporânea. Uma forma de chacoalhar esse estado de coisas é promover momentos de suspensão e estranhamento, capazes de cultivar outras possibilidades de ser e estar no mundo. Esses momentos de suspensão podem ser alcançados de diversas maneiras, em especial pelas artes.

Nesse cenário, a liberdade de expressão adquire contornos relevantes ao colocar em xeque um modelo civilizacional afetado por frequentes crises. Essa ideia traz em seu bojo matrizes de superação pela busca de novos campos e oportunidades, por meio da criatividade, da experimentação, da crítica e da reflexão. Nesse terreno não polarizado, indefinido a priori, sobressaem ligações eletivas e afetivas associadas à convivência humana, à noção de transitoriedade e certa tendência para improvisação e tolerância ao erro.

As criações simbólicas nos instigam a convocar outras interfaces e conexões, ao lidar com as subjetividades, abrigar elementos de dúvida e agregar um lugar para novas perguntas e investigações. Desse modo, combinações improváveis podem sugerir aberturas para diálogos horizontais e possibilitar outras ações em rede.

Desde 1992, a parceria do Sesc com a Associação Cultural Videobrasil atua na promoção e difusão dessa singularidade de expressões, e conta com o engajamento de curadores, artistas e pesquisadores de diferentes territórios e culturas identificados com um Sul global. Tal iniciativa visa, ainda, fomentar o encontro de diferentes públicos para debates, trocas de saberes e a fruição cultural como pressupostos para desencadear um processo reflexivo, em deliberada oposição ao conformismo e à indiferença que podem anestesiar os movimentos de transformação social.

Nesse contexto, o Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Panoramas do Sul, atualmente em sua décima nona edição, fortalece uma abordagem educativa em torno de questões centrais do mundo contemporâneo, valorizando as perspectivas da arte como elementos fundamentais para a construção de um pensamento crítico.