Depoimento 2019
Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal
Minha obra Off White Tulips, apresentada na 21a Bienal, pode ser vista como uma memória queer passada em Istambul. A cidade se transformou drasticamente, mas também seus moradores – os lugares mudaram, ou mudam de lugar constantemente, mas não vejo isso como algo ruim em última análise. A visibilidade queer cresceu imensamente; infelizmente, a violência também aumentou. Em 2003, havia por aqui alguns poucos ativistas queer que leram sua primeira declaração de orgulho, depois me lembrei da expressão no rosto dos ativistas profissionais durante os protestos de Gezi, em 2013, que foi de grande surpresa, por encontrarem tantos queers da periferia da cidade, desorganizados, mas dispostos a participar.
Quando migrei para a Alemanha em 2008, minha busca por uma forma artística se intensificou porque senti que eu havia perdido meu público. Na tentativa de formar um público para minha obra, descobri que ela consiste em um ato de tradução que permite uma profunda exploração de questões de linguagem e simultaneidade. Geralmente adapto conceitos fotográficos como abertura, obturador e exposição a modalidades e temporalidades que permitam a mim e aos meus colaboradores (e também ao público) alterar e ocupar diferentes escalas temporais, e reimaginar as supostas características dos meus temas: two-gether-ness e com(m)unity. E eu jamais teria chegado a essas ideias se não tivesse migrado para a Alemanha.
É interessante que, em turco, nosso ponto de partida para definir a amizade, arkadaşlık, representa um senso de orientação, pois localizamos o amigo onde o deixamos, nos levando de volta e trazendo uma noção do passado, arkada [atrás]. Como costumo partir de um provável momento (passado) compartilhado, é impossível para mim entender minha prática artística na ausência dessa palavra. Muitos desses arkadaş ao longo da trajetória de Istambul para Berlim se imprimiram na minha alma, deixando marcas impositivas, mas libertadoras.