Entrevista Tata Amaral, 2003
Entrevista cedida pela artista ao 14º Videobrasil
Durante o festival estaremos discutindo as questões do deslocamento e dos processos nômades como imagens e ações emblemáticas da situação política e cultural contemporânea. Como você reflete isso no painel da arte eletrônica? Este é um tema de interesse em sua obra?
Não penso nisto. Talvez seja.
A relação entre arte e política é ao mesmo tempo rica e conflituosa. Como você percebe esta relação no caso específico do seu trabalho?
Claro. Vila Ipojuca, busca romper com a expectativa da imagem fechada. O nos motivou a realizar este trabalho foi permitir ao espectador criar suas próprias imagens a partir da narração. O recurso é ancestral: a figura do contador, do menestrel existe em todas as culturas, há milênios. No entanto nossa investigação se destina ao espectador contemporâneo, tão habituado à ditadura da imagem desde cedo.
As tecnologias da imagem e da informação participam de estratégias de controle e vigilância, sutis (ou não) e generalizadas. Diante desta realidade, qual seria , a seu ver, o papel da arte em contextos midiáticos?
Educar audiovisualmente o espectador, revelando estratégias de dominação através da imagem.
No contexto sócio-político e cultural contemporâneo, as identidades locais se reconfiguram em tensão com os fluxos globais. Inserida neste processo, a arte eletrônica participa como um campo aberto à experimentação e expressão de novas formas de subjetividade. Como essas questões se manifestam em seu trabalho?
Buscando novos caminhos narrativos ou não. Atualmente trabalho num novo projeto, em paralelo a um próximo longa-metragem. Este projeto se chama Jukebox e a idéia é construir um universo visual e sonoro em torno de uma personagem, Antônia, uma garota de 17 anos, que tem uma filha de um ano e mora numa favela. Este personagem é fictício e a Jukebox será uma organização do material e do processo de pesquisa em torno deste personagem. Este projeto somente pode acontecer na forma de capítulos de um dvd que são consultados pelo espectador ao acaso. Ele não tem vocação para ser disposto linearmente.
Atualmente, verifica-se nas culturas locais o desafio de reinventar as memórias pessoais e coletivas, sem deixar que elas se esvaziem frente aos fluxos de comunicação global. A seu ver, como este desafio se traduz nas experiências da artemídia?
Puxa, muito complexa a pergunta mas parece que eu respondi durante a questão anterior.
No contexto de abordagem dos meios eletrônicos-digitais , interessa-lhe as questões do corpo? Como o corpo aparece em sua obra?
Integralmente. Me interessa demais a questão do corpo mas não sei o que você tem em mente com esta pergunta. Por isto não sei como respondê-la.
Associação Cultural Videobrasil