Entrevista 10/2006

entrevista_ CINCO PERGUNTAS PARA MARTÍN SASTRE


CINCO PERGUNTAS PARA MARTÍN SASTRE


A "Trilogía Iberoamericana" surge quando você se fixa em Madri. Como relaciona sua entrada no circuito internacional da arte e os insights que sustentam a obra?

Foi em Madri, trabalhando na Casa de América, centro que funciona como catalisador da atividade cultural e comercial entre Espanha e América Latina, que tive a noção de pertencer a uma Comunidade Ibero-americana, algo que, do Uruguai, é muito difícil perceber. Vi que compartilhava com meus amigos da Venezuela, México, Brasil ou Peru não só uma cultura, mas os problemas que viviam em seus países de origem. Minha entrada no circuito internacional da arte aconteceu na 8ª Bienal de Havana (2003). Dez minutos depois da abertura, fui ao banheiro, me olhei no espelho e

pensei: “Bem, Martín, agora sua vida mudou”. Foi uma sensação muito forte. Depois disso, a "Trilogía" já foi exibida em mais de vinte países. Creio que o campo da arte internacional serviu para expandir uma idéia que tinha desde pequeno: “E se um dia toda a América Latina se unisse, o que aconteceria?”


Na "Trilogía", Matthew Barney surge como a síntese do artista contemporâneo do “norte”. Por que ele?

Matthew Barney representa os grandes lobbies norte-americanos e as corporações da arte internacional atual. Não é o único, mas é um exemplo claro. É também um grande artista que expandiu o audiovisual para o campo da arte, algo que agradeço. Nossa luta em "Bolivia 3" também pode ser lida como uma luta entre gerações. Como a de Darth Vader e Luke Skywalker em Guerra nas estrelas, quando Darth diz, “Luke... I’m your father”. De alguma forma, minha geração é conseqüência da geração de Matthew Barney. Creio que somos nós, artistas de lugares (equivocadamente) chamados de periféricos, que estamos delineando um novo discurso. É uma mudança necessária.


Em 2005, o programa "Be a Latin American Artist", da The Martín Sastre Foundation for the Super Poor Art, levou alunas da Bauhaus para realizar, em Montevidéu, projetos relacionados ao Uruguai. Que resultados essas residências produziram?

Annemarie Thiede, Charlotte Seidel e Suusi Pietsch viveram e trabalharam em Montevidéu de junho a setembro de 2005, com cem dólares mensais. A bolsa foi uma das coisas mais interessantes que fizemos, porque conseguimos REALMENTE virar o mapa do intercâmbio cultural. O

mais interessante foi o que isso produziu nas pessoas de Montevidéu, sobretudo nos estudantes mais jovens, que pela primeira vez se sentiram centro, e não tanto periferia.


Como a Fundação Martín Sastre contribui para a causa dos artistas latino-americanos com projetos não-objetuais?

Acredito que são os microempreendimentos que geram as maiores mudanças. Sinto também que, pessoalmente, minha obra vai se des-objetualizando cada vez mais. Com a Fundação e seus intercâmbios, iremos contribuindo cada vez mais para essa des-objetualização e expansão do campo da arte.


Por que a ironia tem um papel tão preponderante em sua obra?

Quando te acontece de nascer do “outro” lado do capitalismo, a ironia é seu único escudo. É a única forma de fazer frente a um mundo injusto e de transformá-lo, sem sucumbir nesse intento.

Folder "Encontros SESC Videobrasil - Martín Sastre". São Paulo, outubro de 2006.