Entrevista 2003
Durante o festival estaremos discutindo as questões do deslocamento e dos processos nômades como imagens e ações emblemáticas da situação política e cultural contemporânea. Como você reflete isso no painel da arte eletrônica? Este é um tema de interesse em sua obra?
CyberZoo propõe um novo cenário da luta pela sobrevivência : passamos dos conflitos da biosfera aos da infosfera. Partindo da noçâo de virus informâtico e analisando suas estratégias e seu comportamento na rede, podemos chegar à consideraçâo das idéias como virus que dessenvolvem-se independentemente do sujeito usando-o incluso para sua própria reproduçao. Esse comportamento nomada dos virus dentro do espácio liso da rede deconstrói nao somente a idéia de território senão ainda mesmo os limites do sujeito.
A relação entre arte e política é ao mesmo tempo rica e conflituosa. Como você percebe esta relação no caso específico do seu trabalho?
Considero politica toda obra que faça uma reflexão critica a respeito dos mecanismos de poder ou as estratégias do sistema. Nesse sentido na minha obra a reflexão está focalizada mais desde os mecanismos da mirada considerada como estratégia de poder (quem olha, quem é objeto da olhada, que oculta, que deforma, etcetera). No caso especifico de CyberZoo, intento pôr em evidência a fragilidade de todo sistema (sistemas de redes, sistemas de control, sistemas biologicos, sistemas de clasificação), e avançando um pouco mais adiante, a fragilidade do eu ou da própria identidade compreendida como sistema.
As tecnologias da imagem e da informação participam de estratégias de controle e vigilância, sutis (ou não) e generalizadas. Diante desta realidade, qual seria , a seu ver, o papel da arte em contextos midiáticos?
Todo dispositivo tecnologico leva incorporado, como cavalo de Tróia, a ideologia de quem o produz. Entendendo o tecnologico como outra maneira de control e imposição de modelos de comportamento, não poderemos considerar o homem uma prótese da tecnologia? Mas a ideologia invisível que traz consigo todo dispositivo tecnologico é que aceitamos sem questioná-la não é a unica possível. A atribuição da arte tem sido sempre pôr em evidência aquilo que permanece oculto e desarticular mecanismos, fazer visível o indizível.
No contexto sócio-político e cultural contemporâneo, as identidades locais se reconfiguram em tensão com os fluxos globais. Inserida neste processo, a arte eletrônica participa como um campo aberto à experimentação e expressão de novas formas de subjetividade. Como essas questões se manifestam em seu trabalho?
Em CiberZoo enfoco a matéria da subjectividade partindo da noção de virus informatico e por extensão considerando as idéias como virus que dessenvolvem-se independentemente do sujeito usando-o ainda para sua própria reprodução. Nesse contexto, os limites que apressentam-se hoje a nós como menos definíveis são os mesmos limites do sujeito. Atravessado por idéias que cada vez é mais difícil definir como própias, pelos discursos de outros, defendendo causas alheias e ocupando uma função sempre cambiante e nunca escolhida dentro da rede global.
No contexto de abordagem dos meios eletrônicos-digitais , interessa-lhe as questões do corpo? Como o corpo aparece em sua obra?
Na minha obra tenho utilizado diferentes estratégias para refletir sobre a segmentação e dessarticulação do corpo humano como conceito. Tanto com o uso de raios X, imagens biologicas digitalizadas, ou atravez do uso da rede, as referencias ao corpo aparecem prévias a qualquer possível forma de identidade, ou posteriores as mesmas, isto é, a uma instãncia posthumana onde a identidade aparece completamente desintegrada.
Associação Cultural Videobrasil