Sentado atrás de uma bancada e vestindo terno e gravata, um personagem ensaia um diagnóstico sobre a situação política, social, econômica e cultural brasileira, mas é continuamente interrompido por fartos tragos de uma garrafa de cachaça. Seu figurino, o texto e o enquadramento em plano médio satirizam os trejeitos e expedientes que supostamente garantem credibilidade ao discurso dos âncoras de telejornal, preparando o expectador para recebê-lo como verdade cabal. Aqui, no entanto, aquilo que é pressuposto como um dado objetivo pela fala do apresentador — o Brasil enquanto experiência social compartilhada — é descontruído e denunciado em seu caráter ideológico. Insinua-se no vídeo a iminência de uma mudança política, de um porvir após quase 20 anos de um estado de exceção. A obra foi seminal para uma geração de videoartistas que, na década de 1980, usaram o meio para questionar as convenções e gêneros da televisão, preocupação que também marcaria a atuação posterior de Anhaia Mello.