Nesta narrativa aberta, em que partida, busca e retorno se confundem, os dois cineastas cruzam de forma sintética suas experiências afetivas e existenciais em uma jornada pelo Nordeste brasileiro que permeia ambiências do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia. A pesquisa por vezes antropológica, por vezes identitária, e a ideia de sertão parecem ganhar uma outra dimensão. Se, de um lado, tem-se em vista o seu caráter interiorano, distante e esquecido, é nesse lugar que os dilemas universais do homem — como a noção de pertencimento — parecem mais esgarçados e desnudos, e que se expõem as contradições entre as noções de local e global, tradição e cultura de massa. Ao recorrer ao movimento continuado e não linear, a obra coloca a figura do viajante como uma ideia perene de sobrevivência na implacável compressão de tempo promovida pela viagem. A locomoção terrestre e exploratória capta elementos sensitivos que afloram no filme em função da direção fotográfica e das técnicas de captação. Filmado em tempos distintos, as cores, as texturas e os sons tornam-se elementos imprescindíveis para a compreensão da riqueza plástica do filme. Alguns anos depois, essa longa pesquisa desbravadora viria a ser ampliada no longa-metragem da dupla Viajo porque preciso, Volto porque te amo (2009). Como prova irrefutável, esses trabalhos contribuem para desconfigurar as fronteiras entre cinema e artes visuais, processo que marca a trajetória das duas últimas gerações de realizadores brasileiros.