A obra parte do registro videográfico de uma ação realizada pelos artistas em agosto de 2000. Sob direção de Guimarães e com performance de Rivane Neuenschwander, consistia em inserir fragmentos recortados de um mapa-múndi em livros da Biblioteca Pública de Estocolmo e devolver os volumes às estantes, para possivelmente surpreender eventuais leitores. Valendo-se da ideia de circularidade — presente tanto na arquitetura do prédio da instituição quanto na imagem do globo —, o vídeo mobiliza o paralelo, humanista por excelência, entre os atos de ler e de viajar, comuns ao imaginário modernizador do Ocidente e indicados, respectivamente, pela biblioteconomia e pela cartografia. Ao criar equivalências entre lugares distintos da Terra e diferentes passagens literárias, os artistas sublinham o lugar do acaso nas aspirações totalizantes — fruto do impulso pela organização dos espaços e dos saberes — de modo a revelar o caráter arbitrário dos parâmetros dos quais se valem. A obra desconstrói acepções geopolíticas ao confrontar, por exemplo, o particular e o universal, o íntimo e o público, e acolhe o inesperado que sempre habita o porvir. Remete também à escrita de Júlio Cortázar e ao seu “a volta ao dia em 80 mundos”. Captado em Super-8, o vídeo teve trilha sonora composta pelo grupo O Grivo, importante parceiro de Guimarães, Neuenschwander e de outros criadores mineiros emergentes nos anos 1990.