Texto de apresentação Solange Farkas, 2011

Visual Utopia

Em resposta à intrigante proposta da equipe curatorial da Bienal, este programa pretende abordar temáticas relacionadas a resistências, fronteiras e utopias, por meio de obras que lançam mão de estratégias originais para falar da realidade sul-americana.

Ao se referir a uma ilha onde a sociedade se organizava de maneira justa e igualitária, em seu livro Sobre o melhor estado de uma república e sobre a nova ilha utopia, de 1516, Thomas More cunhou o termo que seria tão utilizado posteriormente para descrever sonhos, ideais elevados e sociedades perfeitas.

Ao estabelecer um diálogo entre as obras reunidas aqui e as poéticas suscitadas por esta ideia, pretendemos colocar em debate o conceito de utopia na contemporaneidade. Tentar entender o que seria a ilha utópica de More na problemática artística: qual é o poder transformador da arte e quais são seus desdobramentos no entorno que circunda artista e obra?

A ideia de resistência, que surge nesse horizonte teórico inevitavelmente, está também no cerne de cada um desses trabalhos. Concebendo resistência como forma de oposição a algo – um poder manifesto sob qualquer forma, um potencial agente privador de liberdades coletivas ou individuais –, e considerando que ela pode assumir uma natureza política, social, poética, ou outra, pretendemos criar um discurso que enalteça a liberdade. 

De formas diversas, essas obras falam da liberdade de transitar entre territórios, crenças, discursos e espaços. Mas falam, também, da liberdade de criar e construir novas formas de relação, seja no âmbito interpessoal, seja em planos muito maiores, como o das interações entre nações. 

Tocam ainda na liberdade de ser, apenas, sem que isso interfira na fronteira mais próxima ou afete negativamente o entorno.

Na contemporaneidade, a ideia de fronteira – como delimitação, contorno, limite aproxima-se – cada vez mais de seus opostos: fusão, intersecção, amplitude. Os deslocamentos populacionais e o fluxo descontrolado de informação – que ultrapassa limites territoriais – geram a constante necessidade de construir novos tipos de fronteiras, talvez fronteiras que contradigam a si próprias.

De formas diversas, estas obras falam de fronteiras reais e de  fronteiras que se delineiam em outras esferas. Fronteiras que delimitam territórios – espaços ocupados por nações, crenças, ideias, práticas artísticas e análises investigativas. A relação do homem com os espaços da contemporaneidade guia este segmento, tentando perpassar conflitos, intersecções e novas formações geradas pela necessidade latente de mudança.