Ficha técnica complementar

participantes - André Amparo, André Melo, Claudio Santos, Lucas Bambozzi, Marcelo Braga, Rodrigo Minelli, Ronaldo Gino, Vitor Garcia

participação especial - Wilson Sukorski

Texto de apresentação 2005

Carro Bomba - Feitosamaos/F.A.Q

Há momentos em que tudo pode acontecer. Principalmente uma tragédia. Para o grupo feitoamãos/F.A.Q., a sensação generalizada da iminência de um ataque – seja numa rua do Oriente Médio, seja em um automóvel parado no trânsito paulistano – alcançou um grau inédito de palpabilidade depois de 11 de setembro de 2001. Carro-Bomba fala do instante em que a noção de perigo torna-se inquestionável, a ponto de nos fazer desejar que o pior aconteça logo, para que a vida possa seguir adiante. A preparação para um desenlace desagradável é a circunstância que o coletivo de artistas expõe na performance feita de fumaça, projeções, barulho e aglomeração.

A ideia não deriva apenas da meditação sobre atos terroristas. O dia-a-dia, em suas trivialidades, também apresenta situações de risco. “Objetos banais podem conter alguma forma de violência. É a insegurança, por exemplo, de um garoto que brinca com uma bombinha de São João sabendo que ela vai explodir. É essa sensação de terror que é esperada e até desejada”, explica o artista Lucas Bambozzi, integrante do grupo. “Partimos do princípio de que não sabemos nos relacionar com todas as questões ligadas ao terror. Nós, brasileiros, convivemos cotidianamente com formas de violência igualmente trágicas.”

A suspensão na relação espaço-tempo causada por todas as formas de violência é o ponto da performance. “Tomando como metáfora a expectativa dramática que se impõe na iminência de um acontecimento dessa natureza, pretendemos traduzir os incômodos das várias violências que nos cercam.”

O F.A.Q. é um desdobramento do coletivo feitoamãos, que produz, desde 1999, projetos colaborativos de pesquisa em linguagens e possibilidades da arte eletrônica. Além de Bambozzi, é integrado por André Amparo, André Melo, Claudio Santos, Marcelo Braga, Rodrigo Minelli e Ronaldo Gino. “Nossas apresentações sempre tangenciaram temas relacionados à política, à violência e ao cotidiano urbano. Com Carro-Bomba, trata-se de buscar um questionamento sobre a política da violência e sobre a violência na política, ou sobre as formas de ação política que desconsideram as diferenças culturais, religiosas, de raça e gênero como elementos fundamentais à humanidade.”

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.126 e 127, São Paulo-SP, 2005.

Texto de imprensa 13/09/2005

Performance critica violência Mineiros explodem Kombi no Videobrasil

O coletivo mineiro feitoamãos promoverá um atentado hoje à noite, no Sesc Pompéia. A nova obra do grupo, a performance "Carro-Bomba", estréia como destaque do festival de arte eletrônica Videobrasil. Sincronizando música e imagem, eles realizam o que chamam de "cinema expandido". "É bastante diferente do trabalho do VJ", explica Rodrigo Minelli, 40, integrante do grupo. "É uma narrativa não-linear, em que a música e o vídeo dialogam o tempo inteiro", diz ele. O público será envolvido por imagens projetadas em três telas, que reúnem cenas como a de uma Kombi indo pelos ares -o próprio grupo comprou o carro e o explodiu. "O público constrói a história com a gente. Têm que escolher para onde olhar", afirma. Além de explodir o carro, o processo de criação incluiu entrevistas para saber o que as pessoas pensavam sobre a possibilidade de se confrontar com um atentado terrorista. "Essa idéia do carro-bomba está na mídia, mas geralmente não causa horror, porque está muito distante", conta Minelli. "A política da violência está presente em nossas relações cotidianas, independentemente de estarmos no Iraque. O medo de que algo violento possa vir a acontecer é iminente." O outro alvo do feitoamãos é a imprensa. "É uma crítica a esse cotidiano da violência e ao papel que a mídia tem de alimentar isso", fala Minelli, lembrando também da frase de um amigo que foi um dos motes para o trabalho: "Todo dia a mídia estraga um pouco meu dia". Responsável por alguns dos trabalhos mais contundentes do cenário de live-images, o feitoamãos existe desde 1999, criado por designers, produtores e videomakers para experimentar novas linguagens audiovisuais. Nesta performance, eles contam com a participação do músico Wilson Sukorski. (AF) -------------------------------------------------------------------------------- Carro-Bomba Quando: hoje, às 21h Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, tel. 3871-7700) Quanto: entrada franca

Ferreira, Adriana. "Mineiros explodem Kombi no Videobrasil". Folha de São Paulo, 13 de setembro de 2005.