O FF>>Dossier da Associação Cultural Videobrasil completa um ano. Nestas doze edições mostramos trabalhos de jovens artistas do Brasil e da América Latina, numa primeira tentativa de cartografar as produções dessa região. Nesta 12ª edição serão mostrados os trabalhos de Marcellvs L., e com isso damos prosseguimento a um novo recorte editorial menos voltado para as regiões geográficas, inaugurado com a obra do artista turco Ethem Özgüven na publicação do 11º FF>>Dossier. Essas doze edições serviram para amadurecer o projeto, criar novas conexões com artistas, curadores e teóricos em busca não só de ampliar a divulgação da produção artística do circuito sul, mas sobretudo de refletir as situações limítrofes da arte na contemporaneidade. 

A obra de Marcellvs L. é extremamente peculiar e não se encaixa com facilidade nas denominações mais típicas do ambiente da arte eletrônica. Seus vídeos são multiplicidades, como afirma o psicanalista Gregorio Biremblitt, aproximando os vídeos das teorias da esquizoanálise. Na verdade, o campo teórico e a literatura, assim como a música, são referências fortes na produção do artista, e acabam sendo explicitadas em seus vídeos, conhecidos também como “videorizomas”. Nesta série de trabalhos, que já conta com quase 20 produções, o artista efetua passagens entre o conceito de Rizoma vindo de Deleuze e Guattari para criar um dispositivo de produção, veiculação e distribuição. Ao contrário de uma tradução, os vídeos acabam por potencializar tanto as imagens como o próprio campo teórico a que se referem com freqüência. 

Os vídeos, quase sem recursos de edição, mostram longos planos-seqüências de pessoas anônimas na vida cotidiana, que vão sendo reveladas/potencializadas sutilmente através do zoom. Mas, ao invés de revelarem a realidade, acabam por torná-la pura invenção. Os “videorizomas” não se esgotam somente na produção e na exibição em circuitos mais comuns e tradicionais. Faz parte do processo o envio dos vídeos para uma pessoa qualquer sorteada no catálogo telefônico. 

Parece que Marcellvs L. busca uma situação que sai de um anônimo e vai até outro, como que devolvendo aquilo que ele conseguiu captar na vida ordinária. As durações acabam por ampliar as possibilidades de percepção da imagem, tensionando ainda mais as relações com o real e com o tempo, como observou Cezar Migliorin em seu artigo da “Contracampo - Revista de Cinema”: “Diferente das freqüentes subversões cronológicas que o cinema moderno trouxe às narrativas, buscando um tempo crônico e não linear, o que aqui acontece é uma linearidade do plano-seqüência que entra em conflito explícito com o tempo organizado em seqüências de elipses”.

O trabalho de Marcellvs L. já foi exibido e premiado em diversos festivais; recentemente o artista recebeu o Grande Prêmio da Cidade de Oberhausen com o vídeo “Man.Road.River” (2004), foi contemplado com a bolsa do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, e realizará, ainda em 2005, exposição no Paço das Artes, em São Paulo.

Com a obra de Marcellvs L. damos prosseguimento às edições mensais do FF>>Dossier, uma ação da Associação Cultural Videobrasil para ampliar a discussão e a reflexão acerca da produção artística contemporânea.

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