Houve um tempo em que se acreditou no documentário como espelho do mundo. Ao se suprimir qualquer vestígio de intervenção do autor sobre a realidade documentada, acreditava-se preservar a autenticidade da representação. Um simples giro no eixo do espelho indicaria que o documentário não reflete o mundo, mas a subjetividade de seu autor. Depois vieram lições de cineastas como Jean Rouch, que mostraram por que documentários não são espelhos do mundo ou do autor, isoladamente, mas a negociação entre esses dois pólos. 

Luciano Mariussi trabalha nesse território de transações em que opera o documentário contemporâneo. Com a observação voltada para os diálogos e as mediações entre a arte contemporânea e o público, seus vídeos, instalações e intervenções apresentam a mesma complexidade especular que configura a estrutura de um documentário. Mariussi é o quarto e último artista da série Identidade/Alteridade, curadoria do FF>>Dossier que enfoca as poéticas estruturadas a partir de diálogos entre o artista e o mundo.

A incomunicabilidade entre arte e público, foco de trabalhos como Estética (2002) ou Não entendo (1999), não é apenas o resultado de uma pesquisa empírica, realizada com a câmera na mão, no espaço urbano ou no espaço expositivo. A situação de estranhamento arte x público apresentada nas obras de Mariussi é também reflexo das dúvidas e das incertezas do artista enquanto espectador da arte contemporânea. Um espelho voltado para dentro, produzindo nos trabalhos a condição de auto-retratos.

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