Entrevista Eduardo de Jesus, 04/2004

A paisagem é um elemento forte e recorrente no trabalho de vocês, isto está evidenciado nas obras Utopia, Plaf ou Flatland, assim como na programação visual criada para a décima quarta edição do Videobrasil. Existe uma provocação da paisagem para gerar essas obras? De onde brotam as percepções para a realização desses trabalhos?

trabalhamos caminhando. não conseguimos ficar parados por muito tempo. quase todas as nossas idéias surgem em passeios, caminhadas. isso implica tempo, espaço. passagens. deslocamentos. a paisagem está lá, ao redor, e nos interessa sobretudo sua transformação. temos a sensação de viver em um mundo líquido, que se redesenha a cada instante. as paisagens de nossos trabalhos não têm formas fixas… são estiradas, desdobradas, recombinadas, realinhadas… são paisagens de transformações.

A produção de vocês mostra trânsito entre suportes, técnicas, meios e espaços. Como efetuam as passagens nesse trânsito no momento da produção? Existe algum elemento que se sobrepõe e determina os demais?

se existe trânsito entre os meios, é porque nunca partimos deles. passamos por eles. acreditamos que eles estão aí, à disposição para serem usados. como caminhos para chegar a algum lugar. nosso trabalho começa com uma observação, que desencadeia uma conversa, que pode ser transcrita como vídeo, escadas de madeira, tijolos empilhados ou uma fonte tipográfica, mas o elemento determinante é a discussão, seja entre nós dois, seja com outras pessoas.

Alguns trabalhos parecem mesmo imagens do tempo. Talvez um tempo mais distendido e ligado a outras velocidades. Como vocês articulam as noções de tempo na construção das imagens e instalações?

a percepção do tempo sempre nos interessou, seja pelo movimento, com suas acelerações e desacelerações, seja pela passagem, pela transitoriedade. em "flatland", acabamos por confundir a percepção do tempo, do que é lento ou rápido. uma imagem aparentemente em alta velocidade é na verdade um still desacelerado, desdobrado em vários frames. com "pilha", procuramos retirar a instantaneidade da leitura. o leitor precisa "contar" pilhas para ler, e acaba ficando mais tempo com as palavras... tentamos dar tempo aos significados… e significados ao tempo.