Biografia comentada 06/2009

Antes de formalizar seus conhecimentos no campo das artes, Jamsen Law (Hong Kong, China, 1973) já fazia experimentações em performance e artes visuais. Um dos fundadores do coletivo multimídia 20 Beans + A Box, estabelecido em Hong Kong em 1993, o artista chinês realizou sua primeira individual – uma instalação que expôs na Universidade Chinesa de Hong Kong – dois anos antes de receber o título de bacharel em belas-artes. 

Além de se formar, em 1997, Law ganhou o Prêmio de Ouro da MTV com o vídeo independente Getting Used to Run. No trabalho, a preparação psicológica anterior ao ato de correr, o êxtase e o bem-estar vinculados ao exercício e as expectativas em relação ao outro são temas-chave. Em 2000, o autor conclui mestrado em literatura e estudos culturais na Universidade de Hong Kong. A partir daí, passa a lecionar na instituição, onde permaneceu como professor durante quatro anos, e a ministrar palestras e oficinas em outros institutos da cidade. 

O ano 2000 também representa o começo de um ciclo criativo marcante na trajetória doartista: a série Matching Four with Twelve, na qual suas reflexões sobre consciência, desejos, psicose, idealizações e meditação ganham cores, recortes e representações diversas.

“Não me interessa trabalhar com o que entendo. Meu objetivo ao usar e fazer arte comferramentas digitais é entender como as pessoas conseguem viver de modos tão diferentes, tão diferentes do que eu possa imaginar e daquilo com que estou familiarizado”, afirma em statement sobre suas criações. 

Composta pelos vídeos Digesting Patience, Mapping Vapour, Orchestrating Apollo e Swearing Coming, a série ocupou o artista por cinco anos. Também acompanhoue reflete os desdobramentos que seu pensamento ganha a partir de novos estudos e experiências. Nesse mesmo período, entre 2004 e 2006, Law estudou no Institute of Advanced Media Arts and Sciences (Iamas), no Japão, onde concluiu mestrado em criações de mídia. 

Nesses trabalhos, imagens desconstruídas, estilhaçadas em fragmentos geométricos ou transformadas em blocos autônomos se multiplicam para esvaziar o retrato do ser, do indivíduo. Transformam-se também para revelar aspectos perturbadores em um cotidiano de regras bem definidas, como os transeuntes que caminham para trás em Mapping Vapour (2002). 

Os interiores de Law são desprovidos de marcas pessoais, os exteriores não raro são cenários de neve e neblina, as casas e dormitórios bem poderiam ser caixas. O doméstico, como um homem varrendo uma casa, o rotineiro – a espera do metrô na plataforma, o diário em ritmo de fluxo de consciência de seus personagens – e o banal estão mediados porimagens manipuladas, por vezes aceleradas. 

A multiplicidade de possibilidades de expressão por meio de dispositivos eletrônicosfascina e, ao mesmo tempo, aborrece o artista. A onipresença de monitores, luzes, botões e aparelhos eletrônicos em Hong Kong, uma das matérias-primas mais fecundas para as proposições do autor, provoca a aparição em sua obra de reflexões sobre os estados mentais que a overdose de imagens pode ocasionar. 

Em sua investigação sobre os significados, processos e produtos ligados à consciência, um dos grandes temas do artista, Law realiza Field of Consciousness (2006), instalação apresentada na seção Estado da Arte da mostra competitiva Panoramas do Sul, durante o 16o Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil (2007). 

Pelo trabalho, ganha o prêmio de residência artística do evento que o leva à WBK Vrije Academie, em Haia. Nessa nova temporada de criações, pretende expandir os estudos que vem fazendo sobre o modo como as populações da Ásia Oriental estão processando sua cultura à luz das grandes mudanças advindas da ocidentalização. A flor é o objeto-símboloque o artista planeja utilizar a partir de agora. “Estou reunindo imagens e pesquisando. Será mais, talvez, como um ensaio.