Texto de curadoria geral Solange Farkas, 1992

Editorial

Ao planejar, apesar do momento de crise, as primeiras diretrizes do 9º Festival Internacional Videobrasil, optei por traçar uma estrutura bem mais ambiciosa que a dos anos anteriores. Agora vejo que ele está aí e até ultrapassa o projeto inicial. Há momentos na história em que a criatividade emerge com a beleza e a energia de um vulcão e com o mesmo poder de transformação. É provável que estejamos às margens de um desses períodos. Por todo lado se vêem sinais de um tempo fértil. Organizar um evento como o Videobrasil, me coloca num centro para onde converge boa parte da energia criativa dispersa por aí, tanto no Brasil como em todo mundo.

É um privilégio poder contar com o maravilhoso espaço recriado pela arquiteta Lina Bo Bardi ao aproveitar uma antiga fábrica, e que parece ter sido pensado para um festival de vídeo: o SESC Fábrica Pompéia. A partir deste ano o Videobrasil acontece lá, ao mesmo tempo que chega a uma estrutura mais orgânica. São quatro grandes programas inter-relacionados, mas independentes: a Mostra Competitiva, aberta às produções de todo o Hemisfério Sul; Proposta do Juri, que aproveita a oportunidade criada pela vinda dos jurados nacionais e internacionais - pessoas de destaque no mundo do vídeo; Homenagens, que traz uma visão retrospectiva da obra dos mais importantes artistas que contribuem (ou contribuiram) para o desenvolvimento da linguagem audiovisual; Imagens do Futuro, um programa voltado para evolução tecnológica e suas consequências na arte do Vídeo, na mídia e linguagens. Em torno deste eixo, gravitam outros eventos e atividades que me dão a certeza da importância do 9º Festival Internacional Videobrasil, mesmo quando confrontado num contexto mundial, como centro de reflexão e debate. Muitas dessas atividades paralelas me "caíram no colo" inesperadamente, idéias trazidas por gente que se entusiasmou e se envolveu com o Festival. São seis instalações de porte e tecnologia sofisticada. Duas exposições: Impulsos Eletrônicos - produzida especialmente para o Festival - e Totens Domésticos; performances de Otávio Donasci e Fausto Fawcett; duas mesas de debates sobre arte e Novas Tecnologias; um atelier de computer-art: uma palestra sobre a obra de Peter Greenaway e o lançamento do projeto 10 Questões para 100 Brasileiros Que influenciam Outros 100 Milhões, propondo, basicamente uma reflexão sobre o papel da televisão no Brasil.

Há duas coisas que sempre me intrigavam na receita básica dos festivais: a efemeridade e a limitação espacial. Este ano estamos rompendo estes limites. O projeto 10 Questões torna o 9º Videobrasil menos efêmero, pois vai gerar, no mínimo, uma publicação com a análise das respostas. Três atividades vão romper os limites espaciais: a TV Anhembi, televisão comunitária ligada à Prefeitura de São Paulo, vai estar com seu caminhão levando a diversos pontos da cidade momentos do Festival, com link de duas vias em seu esquema de câmeras abertas e videowall; a TV Cultura vai produzir e transmitir para todo o Estado o programa diário Videobrasil/ Lanterna Mágica com a abertura e encerramento em rede nacional; por fim, O Videojornow, que marca o Videobrasil desde 1988, como veículo de comunicação do Festival, este ano será produzido em Betacame e traz uma novidade mundial: o videofone e, com ele, a possibilidade de entrevistas "ao vivo" com artistas em vários pontos dos Estados Unidos. Produzido pela Magnetoscópio, dirigido por Marcelo Dantas, o Videojornal será apresentado pelo ator Carlos Moreno.

Enfim, espero que minhas intuições estejam certas, que os sinais de novos tempos se confirmem e que o Festival Internacional Videobrasil possa acompanhar a caminhada rumo ao século XXI.

(catálogo do 9º Videobrasil). ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "9º Festival Internacional Videobrasil": de 21 a 27 de setembro de 1992, p. 5 e 6, São Paulo-SP, 1992.

Texto institucional Danilo Santos de Miranda, 1992

SESC São Paulo_ 9º Videobrasil

O Festival Internacional Videobrasil, que neste ano de 1992 completa sua nona versão, constitui uma prova evidente das possibilidades criativas e plásticas do vídeo. As obras que o público verá demonstram ser ele não apenas uma tecnologia, mas sobretudo uma linguagem de exploração estética, documental e de multimídia, capaz de nos transportar à experimentação de sensibilidades até então inusitadas.

Tal percepção nos parece importante, pois a primeira imagem que nos vêm do cotidiano é a de que o vídeo não vai além de um entretenimento individual ou familiar, inteiramente dependente da indústria cinematográfica. Ele nos aparece apenas como uma espécie de capilaridade privada, cujo prazer é consumido no interior confortável de nossas salas e quartos. O Festival desmente uma constatação tão simples e prosaica. Ele espanta e faz refletir sobre as aberturas da aventura plástica.

O Serviço Social do Comércio - SESC, de São Paulo, por sua produção e apoio às manifestações artísticas, tem se revelado uma instituição de extrema importância para a sobrevivência, a difusão e o desenvolvimento de nosso universo cultural. Por essas razões, sentiu-se honrado e igualmente responsável pela co-realização deste que é o mais significativo evento da criação video-artística do Brasil.

(catálogo do 9º Videobrasil). ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "9º Festival Internacional Videobrasil": de 21 a 27 de setembro de 1992, p.9, São Paulo-SP, 1992.