Texto de curadoria geral Solange Farkas, 1994

Penso na importância do vídeo, em como ele faz parte da nossa paisagem cultural e o quanto está integrado ao nosso cotidiano- é fácil constatar que estamos cercados de tvs por todos os lados. Penso como esse revolucionário eletrodoméstico, difusor de informação e entretenimento, foi rapidamente absorvido também pelo mundo das artes.

No campo da expressão artística, penso como o vídeo tem transformado nossa maneira de ver as artes, ao incorporar e trabalhar com todos os materiais das outras artes e transformá-los em algo novo, nunca visto. Talvez o que mais chame a atenção na produção experimental e de arte feita em vídeo é a possibilidade de nos fazer ver de outra forma aquilo que estamos acostumados a ver através da pequena tela de tv; isto sem falar na fantástica capacidade de trabalhar a percepção e o sentido metafórico da visão. Ao alcançarmos a décima edição do Videobrasil, fruto da reflexão destes anos e da satisfação do reconhecimento adquirido, podemos oferecer um amplo panorama da consolidação do vídeo enquanto obra de arte e, como tal, carregado de poesia. São apresentadas obras de inquestionável sensibilidade, tanto de artistas consagrados como de jovens autores. Estamos completando uma década neste fim de século, o que nos faz refletir sobre o futuro do nosso evento, considerando-se as incertezas que ainda fazem do audiovisual um meio dependente do apoio das instituições.

Há dois anos atrás apresentamos - aqui mesmo no SESC Pompeia e pela primeira vez - uma extensa seleção de obras, entre vídeos e instalações, firmando cada vez mais a vitalidade do vídeo em todas as suas acepções e, principalmente, recebendo um sólido apoio para a continuidade do festival. O SESC São Paulo afirma definitivamente a pluralidade de sua atuação cultural trazendo para o público um panorama histórico da poética audiovisual contemporânea. E a Associação Cultural Videobrasil cumpre, mais uma vez, o seu compromisso de promover encontro da arte com a tecnologia.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "10º Videobrasil: Festival Internacional de Arte Eletrônica": de 20 a 25 de novembro de 1994, São Paulo-SP, 1994.

Texto de apresentação 1994

Poesia

O tema Poesia orienta o festival e os vídeos das mostras programadas apresentam várias possibilidades de se lidar com o poético. A Mostra Competitiva do Hemisfério Sul abrange obras realizadas nesse hemisfério nos últimos dois anos e curadores especialmente convidados prepararam as seleções dos Panoramas da Poesia Audiovisual, que trazem a produção de videoarte na Alemanha, América Latina, Espanha, Estados Unidos, França e Inglaterra. O painel da poesia mundial em vídeo só não se completou devido à ausência do Japão- apesar dos esforços de Fujiko Nakaya, Kenjiro Okasaki e da Video Gallery SCAN- e pela impossibilidade da vinda de Gianni Toti, grande valor da videopoesia na Europa.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "10º Videobrasil: Festival Internacional de Arte Eletrônica": de 20 a 25 de novembro de 1994, São Paulo-SP, 1994.

Texto crítico Amir Labaki, 1994

Poesia e instalações dominam 10º Videobrasil

"Serial Clubber Killer", dirigido por Duda Leite e Gisela Mathias, está no Videobrasil
Poesia e instalações dominam 10º Videobrasil

Rebatizado de Festival Internacional de Arte Eletrônica, o Videobrasil comemora sua décima edição, entre os próximos dias 20 e 25, pesquisando o que há para além da videoarte. O mais tradicional festival de vídeo brasileiro, nessa busca, aposta nas performances (quatro) e videoinstalações (12) e reformula suas mostras e competição, pautando seus 11 programas a partir de um tema comum: a poesia. "O objetivo é olhar um pouco para a frente e ver como a arte eletrônica está caminhando", explica a curadora Solange Farkas. Sua tese é assim resumida: "Fazer a exibição já não corresponde ao movimento da videoarte. Videoinstalações e performances são as expressões mais significativas hoje." O 10º Videobrasil sublinha, portanto, a arte eletrônica que transcende a tradicional obra para ver-se em monitor. Destaca a videoprodução que superou aqueles limites e ganhou o mundo. Ecos da tese da 22ª Bienal de São Paulo, sobre a superação da tela e a exploração de novos suportes, certamente são mais que coincidência. É sintonia mesmo. Dezesseis obras tentam provar a tese de Farkas. O espanhol Anton Reixa, o americano Stephen Vitiello e os brasileiros Éder Santos e Otávio Donasci assinam as performances. Em "Ringo Rango", Reixa casa vídeo e poesia galega. "Driven By Birds", de Vitiello, retrabalha imagens dos videastas Marcelo Braga, Seoungho Cho e Tony Oursler. Donasci dá à luz três videocriaturas, a videomoita, o videocópterus e o videobrasileiro. Encerrando o festival, "Poscatidevenum" forja uma espécie de ópera-vídeo em torno da viagem de um metrô, em uma criação conjunta de Éder Santos e do compositor Paulo Santos (Uakti). O setor de videoinstalações promete ser ainda mais forte. Traz artistas renomados como o francês Robert Cahen, o espanhol José Antonio Hergueta e os americanos Bruce Ionemoto e Rita Myers. As três instalações brasileiras, de Marcelo Tas, Carlos Nader e Guto Citrângulo, prenunciam-se marcantes. Tas eletroniza a velha "sala de espelhos" dos parques de diversão. Nader trabalha o tempo e o vento. A mídia e a morte são os temas de "Ações Reflexas", de Citrângulo. Farkas afirma ter procurado ser "didática" em sua seleção de trabalhos, expondo representantes das três principais tendências atuais da videoinstalação. Há a videoescultura, representada pelo alemão Dieter Kiessling, a videoambientação, como na obra de Myers e na do inglês George Snow, e as instalações performáticas, como a de Tas. Onze programas tentam por seu lado provar que videoarte não é coisa do passado. O achado do festival deste ano é eleger um tema pertinente, o da pesquisa poética nas artes eletrônicas, para criar um eixo claro para as exibições. A origem do tema foi a presença no Brasil do italiano Gianni Toti, durante o Videobrasil-92 e o Minuto-93. Seu trabalho com videopoesia frisou a necessidade de pesquisar este campo. Sete programas especiais inventariam a poesia audiovisual na França, Inglaterra, EUA, Alemanha, Espanha, América Latina e na obra de Jean-Luc Godard. A competição entre realizadores do Hemisfério Sul selecionou seus 37 participantes tendo por primeiro critério a pesquisa poética.

O 10º Videobrasil acontece em São Paulo no Sesc Pompéia e no Centro Cultural São Paulo entre 20 e 25 deste mês. De 29 de novembro a 4 de dezembro, será a vez do Rio, na Fundição Progresso e na Casa da Gávea.

Folha de São Paulo, Ilustrada. São Paulo, 9 de novembro de 1994.

Texto institucional Danilo Santos de Miranda, 1994

A arte contemporânea ainda possui territórios pouco explorados, sobretudo aquelas fronteiras que a tecnologia não cessa de revelar. E por curiosa semelhança, o caráter imaginativo e artificial da arte, que desde sempre lhe fez o encanto, apoderou-se tão vorazmente da técnica, que hoje corre-se o risco de não mais distinguirmos de onde nos vêm a sedução: se da tecnologia, pura e simplesmente, ou da obra em seu processo de transfiguração.

No caso presente, o do 10º Videobrasil e seu Festival Internacional de Arte Eletrônica, o que se busca é explorar caminhos para uma consequente e verdadeira poética do vídeo. Se ele já nos demonstrou suas possibilidades descritivas, de documentação, utilitárias ou comerciais, resta saber de que modo é capaz de gerar uma linguagem poética. Não apenas pelos recursos técnicos de que dispõe, ou por seu fantástico diálogo com a informática, e sim por aquilo que, modernamente, e sobre os ombros de Dante, poderíamos chamar de, “a ficção em imagens, mas musicalmente formada”.

Como produtor e difusor de cultura, no sentido mais amplo que se lhe possa dar, o SESC de São Paulo vem contrinuindo e tornando realidade muitas das manifestações que a cultura de massa ainda não se interessou em padronizar, nem valorizou a ponto de universalizar. É o território inexplorado a que aludimos acima. Daí a parceria indispensável com a Associação Cultural Videobrasil, desde 1992, possibilitando que o Festival, realizado por ambas as instituições, ampliasse suas propostas e atividades. Exemplo claro dessa perspectiva está no trabalho de videoinstalações.

E nos alegra saber que as respostas dadas, tanto por artistas nacionais e estrangeiros como pelo público, têm sido estimulantes. A dos artistas pela pesquisa estética; a do público pelo interesse e pela percepção de outras formas de inteligência e de sensibilidade. 

(catálogo do 10º Videobrasil). ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "10º Videobrasil: Festival Internacional de Arte Eletrônica": de 20 a 25 de novembro de 1994, São Paulo-SP, 1994.

Texto institucional Rodolfo Konder, 1994

Os tanques na Praça da Paz, em Pequim, avançam contra o povo desarmado; o pássaro coberto de óleo se arrasta às margens do Golfo e da guerra; os jovens saem às ruas para exigir o “impeachment” do presidente Collor. Morreu o mito orwelliano da TV totalitária. Hoje, ela é um poderoso instrumento das democracias.

O Videobrasil pesquisa e divulga as novas funções da TV. Por isso mesmo, sua décima edição só poderia merecer o apoio carinhoso da Secretaria Municipal de Cultura, sintonizada com a História, a TV e o futuro.

catálogo 10º Videobrasil

Texto institucional Yves Louchez, 1994

Em 1992 a Aliança Francesa de São Paulo criou o Prêmio Futuris, com o patrocínio do Banco Sogeral e a participação do INA - Instituto Nacional do Audivisual. Naquele ano, o primeiro Prêmio Futuris foi dado ao trabalho de José Quintino, escolhido como a melhor a melhor criação brasileira de Imagens de Síntese. Quintino foi convidado para ir a Paris fazer um estágio na Ex Machina, empresa francesa que ocupa uma posição de destaque no ramo das novas imagens e imagens computadorizadas - tema do do 9º Festival Internacional Videobrasil. Em 1994 temos o 10º Videobrasil e o segundo Prêmio Futuris. O tema para esta edição é a poesia. Como nas edições anteriores, os videoartistas brasileiros poderão descobrir as produções internacionais mais recentes e prestigiosas. Poderão se encontrar, demonstrar o dinamismo desse ramo cada vez mais importante do universo audiovisual e participar da competição continental, aberta aos criadores do Hemisfério Sul.

Isso demonstra claramente o impacto trazido pelo Festival e a importância do trabalho desenvolvido pelos seus animadores, particularmente o da responsável, Solange Farkas.

A Aliança Francesa mantém sua orientação e almeja facilitar o intercâmbio entre criadores e responsáveis brasileiros e franceses. O lugar de destaque que estes últimos ocupam no cenário internacional está comprovado mais uma vez, com a participação de Jean-Marie Duhard e Yves Louchez, administrador do INA e coordenador do Festival Imagina. O INA e a Aliança unem-se novamente para escolher o vencedor do segundo Prêmio Futuris/ INA/ Aliança Francesa, que ganhará uma viagem a Paris para um estágio na produtora Ex- Machina.

catálogo 10º Videobrasil