Texto de curadoria geral Solange Farkas, 1996

Onze vezes Videobrasil

O universo videográfico como razão da própria existência

O Videobrasil criou raízes e a solidez de uma instituição nacional. Ampliou sua abrangência, assumiu-se como referência cultural, superou limites e simbolizou a consagração de uma nova tendência de expressão artística, de meio de comunicação e de exploração de novos recursos tecnológicos. Mas o Videobrasil renova-se a cada ano, reorienta-se ao sabor das tendências, atualiza-se ao ritmo imposto pela evolução eletrônica, técnica, estética e formal.

Nesses treze anos de existência, com onze edições realizadas, o Videobrasil abriu espaço e ofereceu meios a uma grande gama de manifestações profissionais e artísticas. Esteve, a cada ano, engajado nas questões fundamentais da expressão videográfica, procurando concentrar-se na sua principal razão de ser: servir de instrumento para alavancar a jornada pioneira dessa expressão.

Desde 1983, procurou oferecer um espaço para a manifestação da então nascente produção de vídeo no país, revelando talentos e sistematizando o conhecimento de suas diversas linguagens — institucional, artística, televisiva. Ao longo dos anos, mais de 5 mil produções em vídeo foram inscritos na Mostra Competitiva, para a qual foram selecionadas 425 obras — cujos autores constituem, hoje, componentes substanciais do conjunto de artistas e produtores que representam a expressão da linguagem videográfica nacional. O Videobrasil também ofereceu-se como palco para as discussões que conduziram à consciência e à exploração dos limites e recursos da linguagem videográfica. Promoveu debates que abrangeram os temas mais palpitantes do vídeo — técnica, linguagem, o papel das produtoras independentes, os caminhos da televisão, a liberdade da transmissão, o mercado alternativo e convencional, o processo criativo e as inovações tecnológicas.

A integração da produção videográfica ao mercado, por meio da publicidade, da divulgação institucional e da televisão foi outra das causas que o Videobrasil assumiu, procurando aproximar os produtores de um mercado indefinido e hesitante, para o qual, aliás, também se preocupou em descortinar a imensa perspectiva dos recursos do vídeo. Nesses treze anos, o Videobrasil promoveu workshops, palestras e cursos que colocaram, ombro a ombro, jovens produtores independentes com representantes das mais importantes emissoras de televisão que abrem espaço à linguagem videográfica — como a Chanel Four, da Inglaterra, a RTBF, da Bélgica, o Canal Plus, da França e a Telemadri, da Espanha.

Paralelamente, o Videobrasil contribuiu para abrir ao mercado e aos produtores o leque de inovações tecnológicas e para definir os limites e especificações dos diferentes formatos dos equipamentos. Estabeleceu o fluxo de informação técnica e formal, tão necessária para dar substância à produção videográfica, numa época marcada pela carência de recursos e de acessos ao conhecimento.

O caminho natural da evolução do Videobrasil foi conquistar integração internacional e firmar-se com o tom oficial da representatividade da produção brasileira. Hoje, o Videobrasil cristalizou comunicação permanente com o circuito nobre dos festivais internacionais de vídeo — como o World Wide Video Festival, da Holanda, o Imagina, da França, o Ondavideo, da Itália, e o European Media Art Festival, da Alemanha. Cultivou, reconhecimento e trânsito em algumas das mais importantes instituições culturais e artísticas do mundo — como o London Electronic Arts, o Centre Georges Pompidou, o Centre International Video Montbelliard, o Institut National de L’Audiovisuel de France, o Video Data Bank of Chicago, o Electronic Arts Intermix, o Contemporary Art Television Fund e o The Kitchen dos Estados Unidos. O Videobrasil promoveu um intenso intercâmbio entre brasileiros e estrangeiros, trazendo pela primeira vez ao Brasil as principais personalidades desse universo artístico — como Bill Violla, Breda Beban, Hrvoje Horvatic, Bruce Yomemoto, Dominik Barbier, John Wyver, Julian Temple, Jean-Marie Duhard, Yoichiro Kawaguchi, Gianni Totti, Peter Callas, George Snow, Dieter Kiessling, Jaap de Jonge, Michael Mazière, Tina Keane, Rita Myers e Robert Cahen. Ao todo, 250 personalidades importantes da produção e da arte em vídeo estiveram presentes nesses anos — para transmitir experiências, oferecer oportunidades, enfrentar polêmicas e moldar uma identidade universal.

Este ano, o Videobrasil faz uma homenagem às três décadas de existência da videoarte com a a exposição de um significativo conjunto de obras e artistas e com uma ampla e profunda apresentação do criador e principal expoente da videoarte: Nam June Paik. Treze anos depois, o Videobrasil faz do seu compromisso institucional a própria razão de sua existência.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "11º Videobrasil": de 12 de novembro de 1996 a 17 de novembro de 1996, p. 9, São Paulo, SP, 1996.

Texto de apresentação 1996

11º Festival Internacional Videobrasil

O 11º Festival Internacional Videobrasil, realizado de 12 a 17 de novembro de 1996, é um evento bienal aberto ao público cujo objetivo é oferecer espaço para a produção feita em suporte eletrônico e todo o seu amplo espectro de formas de expressão artística e de comunicação. Cumpre, também, a missão de promover atualização tecnológica, artística e mercadológia do universo eletrônico e televisivo, trazendo obras e autores estrangeiros, estimulando discussões sobre os temas mais atuais do meio, gerando intercâmbio entre produtores brasileiros e estrangeiros e servindo, por sua credibilidade e representatividade, de elo de ligação entre as produções artísticas nacional e estrangeira. O Videobrasil traz uma programação de múltiplos eventos, dentre os quais se destaca a Mostra Competitiva — um canal único de expressão da vigorosa produção artística de autores ainda não completamente integrados ao circuito internacional. Além disso, oferece exposições de instalações, produções e novas formas de manifestação de artistas consagrados internacionalmente; lançamentos de projetos: videojornal produzido e apresentado durante o evento; um cyberspace que conecta on-line o Videobrasil à Internet e apresenta obras em CD-ROM; programação veiculada na televisão; palestras e mesas-redondas com personalidades nacionais e internacionais do universo eletrônico e televisivo; acervo bibliográfico de consulta e um efervescente ambiente de congraçamento cultural e social, estimulado pela atmosfera criativa das dependências do SESC Pompéia, em São Paulo, onde se realiza.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "11º Videobrasil": de 12 de novembro de 1996 a 17 de novembro de 1996, p. 5 , São Paulo, SP, 1996.

Texto institucional Danilo Santos de Miranda, 1996

Um Idioma Personalizado

Originário de uma dupla raiz, constituída pela invenção tecnológica e pela linguagem das telas, o vídeo, a partir de um território indiferenciado, projetou-se em ascensão rápida rumo à autonomia. Em tempo olímpico vestiu-se de roupagem própria, balizou um território e criou um idioma personalizado, dotado de sintaxe peculiar e de articulações específicas. Consolidou-se, enfim, como uma nova forma de focalizar, revelar e interpretar o mundo. Mais que tudo, expandiu o universo da representação artística, adicionando-lhe um recurso marcado pela concisão — signo de afinidade com a construção poética.

A um tempo modulado pelas vertigens da pós-modernidade, entre as quais a do estilhaçamento dos preceitos fixos e a da celebração da impermanência, o vídeo vem trazer o benefício de um campo pouco explorado, propício à experimentação estética, à investigação da forma e à busca ousada da novidade. Por isso tudo, é com satisfação que o SESC, no seu cinqüentenário de criação, une-se à Associação Cultural Videobrasil para a reedição deste evento. O Festival Internacional Videobrasil é hoje, em matéria de vídeo, importante acontecimento da América do Sul. Na verdade, nenhum outro proporciona um panorama tão extenso e seletivo da cultura internacional do vídeo. Além do mais, ao concentrar seu olhar sobre a linguagem alternativa, assume a característica de fórum privilegiado de pesquisa e experimento no campo das artes audiovisuais.

O Videobrasil, nesta sua 11ª versão, dá continuidade à sua trajetória de ampliações sucessivas e multiplica as atividades propostas. Ao lado das mostras, das videoinstalações, das performances, dos fóruns de debates e do videojornal traz, este ano, através de instalações, conferências e retrospectivas, uma homenagem a Nam June Paik, primeiro criador a reunir, na década de 60, arte e televisão.

Para o SESC, instituição comprometida com a idéia de partilha social da cultura, o evento, a par de seus outros méritos, adquire significado em razão, também, de uma possibilidade fundamental: a de estabelecer sintonia entre o grande público e a criação artística.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "11º Videobrasil": de 12 de novembro de 1996 a 17 de novembro de 1996, p. 12, São Paulo, SP, 1996.

Texto institucional Fundação Roquette-Pinto, 1996

A Fundação Roquette-Pinto controla uma emissora de TV (a TVE) e uma rádio (a rádio MEC), além de emitir os canais TVEscola e, em breve, o TVTrabalho. Como fundação pública, voltada para a difusão cultural e e a informação e formação de seu público, não pode deixar de transmitir eventos culturais relevantes. Muito mais, quando se trata de um evento cujo tema está centrado na linguagem audiovisual. Não só porque somos também uma emissora de TV, mas sobretudo, porque somos uma instituição pública interessada no desenvolvimento de novos produtos e novas alternativas de trabalho nessa linguagem. Temos uma enorme responsabilidade no que diz respeito à necessidade de melhorar a qualidade da televisão brasileira em geral. Se não cabe a uma emissora pública competir com emissoras comerciais, por outro lado, uma tarefa que é preciso tentar realizar é a de apresentar uma alternativa para o público; abrir espaço para uma programação que sirva de parâmetro crítico aos formatos e à linguagem recorrente das TVs comerciais. Em outras palavras, abrir espaço para uma programação que poderá servir como modelo para novas produções para TV.

O Videobrasil, além de exibir e divulgar obras de arte em vídeo do mundo todo, conta ainda com uma mostra onde se exploram, sobretudo, novas formas de trabalhar a linguagem audiovisual.

Tudo isso justifica o investimento de porte que a Fundação Roquette-Pinto está fazendo no Videobrasil de 96: estaremos transmitindo ao vivo os vídeos selecionados pelo Festival e estamos lançando um prêmio para os melhores projetos para uma série intitulada Retratos do Brasil. O prêmio será o financiamento da produção da série que terá garantida sua exibição na TVE. A escolha do título tem origem na nova política de programação da TVE, voltada para a valorização da identidade cultural do nosso povo e o debate das questões mais vivas do Brasil. Não cabe à Fundação Roquette-Pinto cuidar apenas de suas emissoras de rádio e TV. Mais do que isso, cabe a esta fundação, de alcance nacional, a responsabilidade de contribuir para a concepção e implementação de uma política cultural clara e bem definida.

Paulo Ribeiro, Presidente da Fundação Roquette-Pinto - TVE

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "11º Videobrasil": de 12 de novembro de 1996 a 17 de novembro de 1996, p. 14, São Paulo, SP, 1996.

Texto institucional O Estado de São Paulo, 1996

Uma empresa de comunicação deve se manter atenta para captar as mudanças do seu tempo. Num mundo como o que vivemos, complexo e em rápida transformação, a moeda mais valiosa se chama informação. Captar a informação e fazê-la circular tornou-se a principal ferramenta para a produção do conhecimento. 

O Festival Internacional Videobrasil, nos seus onze anos de atividade, foi se transformando no canal para onde confluem as experimentações no campo das artes eletrônicas. Este espaço privilegiado, onde se abrigam artistas nacionais e internacionais, vem se consolidando como o melhor mercado de troca de conhecimento sobre imagem.

O jornal O Estado de São Paulo entende cultura como uma atitude frente ao mundo, e as fronteiras desse mundo têm se mostrado cada vez mais móveis. Vivemos num lugar que se transformou num ponto dentro de uma rede muito ampla de conexões. Para nós, a rede é o modelo da cultura contemporânea.

O Festival Internacional Videobrasil reproduz, no seu formato, essa mesma plasticidade orgânica de trânsitos que chamamos de rede. Nosso apoio a esse projeto brota desta sintonia.

Fonte: Programa 11º Videobrasil

Texto institucional Aliança Francesa, 1996

Prêmio Aliança Francesa - INA

Esse prêmio, criado em 1992 no 9º Festival Videobrasil, vai laurear pela terceira vez um jovem criador cujo vídeo privilegie as imagens geradas por computador. Na verdade, desde 1992, a Aliança Francesa de São Paulo e o INA (Institut National de L`Audiovisuel) prestigiam a iniciativa do Videobrasil, empenhando-se em promover o que há de mais atual no campo da realidade virtual.

Pierre Henon e Yves Louchez, diretores do INA, puderam assim participar do júri das 9a e 10a edições desse festival, apresentando as produções mais importantes do festival IMAGINA, por eles organizado há aproximadamente quinze anos, que oferece todos os anos aos profissionais da imagem e da comunicação, aos pesquisadores e aos universitários um panorama de todas as evoluções tecnológicas relacionadas à realidade virtual e aos efeitos especiais. Na verdade, no campo da “síntese”, do real e do virtual, as técnicas estão em contínuo aperfeiçoamento, ora atendendo às exigências dos criadores, ora abrindo novos horizontes. No campo das artes, os intercâmbios internacionais revelam-se indispensáveis prioritariamente para os criadores das novas imagens. Assim sendo, esse prêmio recompensa o melhor deles com uma viagem à França e um estágio em Paris.

Desde a criação do prêmio Aliança Francesa – INA, a sociedade Ex-Machina tem a incumbência de receber o ganhador e organizar o estágio. Essa sociedade, agregada à Thomson, ocupa um dos primeiros lugares do mundo no campo da concepção gráfica, da computação gráfica e dos efeitos especiais (indústria cinematográfica e filmes publicitários). Este ano, a Ex-Machina será representada por seu diretor executivo, Pascal Bap, cuja presença deverá compatibilizar a adequaçãoo do estágio às necessidades dos jovens criadores.

Para a Aliança Francesa, o prêmio Aliança Francesa - INA representa uma oportunidade tanto de divulgar a criação contemporânea internacional, particularmente a francesa, bem como de contribuir para o enriquecimento cultural da França e do Brasil.

Jean-Claude Reith, Pierre Clémense, Alliance Française São Paulo

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "11º Videobrasil": de 12 de novembro de 1996 a 17 de novembro de 1996, p. 22, São Paulo, SP, 1996.