Akram Zaatari

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postado em 28/08/2014
Vídeo trata da “arqueologia das invasões” ocorridas no Líbano durante a Guerra Civil

Abordando temas como o poder dos meios de comunicação, a validade dos fundamentos nacionais e religiosos e sua imposição sobre a moral e a sexualidade, os vídeos e videoinstalações de Akram Zaatari acompanham as transformações da sociedade e da cultura libanesa depois do período da guerra civil (1990 em diante). No filme Um Olhar Sobre os Olhares de Akram Zaatari, parte da Videobrasil Coleção de Autores, Zaatari comenta que a guerra o incentivou a realizar suas primeiras imagens: fotografias de um prédio antes e depois do bombardeio, em 1982.


Akram Zaatari participa de Memórias Inapagáveis com In This House (2004), vídeo que integra o Acervo Videobrasil desde 2005. Em entrevista publicada na página do Acervo Videobrasil, Zaatari afirma que a obra é sobre a “arqueologia das invasões”.

Em In This House, por meio de duas telas apresentadas de modo simultâneo, o artista escava o passado de modo literal em busca de uma carta escrita e enterrada em 1991 pelo fotojornalista Ali Hashisho. Hashisho se uniu à resistência libanesa contra a ofensiva do exército israelense que, sob a justificativa de expulsar a Organização para a Libertação da Palestina do Líbano, cercou e bombardeou Beirute em 1982. De acordo com o depoimento do artista, disponível na PLATAFORMA:VB, nesse período o vilarejo de Ain el Mir, cenário de In This House, foi invadido e evacuado por Israel, que considerou sua locação estratégica. Casas vazias foram posteriormente ocupadas por guerrilheiros libaneses e palestinos – entre eles Ali Hashisho.


Trecho do documentário Um Olhar Sobre os Olhares de Akram Zaatari – parte da série de produções Videobrasil Coleção de Autores

Como resultado da Carta Nacional de Reconciliação (Acordo de Taef), firmada em 1989, a resistência popular foi desarmada. As famílias puderam retornar às suas residências nos anos subsequentes. Ali Hashisho guardou a carta destinada aos donos da casa ocupada dentro do invólucro de uma bomba e a enterrou no jardim. Seu objetivo era contar como ele e seus companheiros zelaram por ela, e agradecer pelo abrigo.

Manuel Segade, curador que assina o texto sobre a obra de Akram Zaatari no livro Memórias Inapagáveis, classifica In This House como uma das peças “mais significativas para compreender a complexidade das (...) estratégias narrativas” do artista. Embora Akram Zaatari se permita introduzir elementos imaginários em alguns de seus vídeos, In This House é factual. A dúvida entre ficção e realidade pode ser suscitada, pois Akram classifica a história contada por Hashisho como inacreditável. “Enquanto estavam cavando, também tive dúvidas se Ali não estava me enganando”, admite em entrevista à Folha de São Paulo, em 2005.

Intimamente ligado ao histórico de internacionalização do Videobrasil, Akram Zaatari participou do Festival pela primeira vez em 1996, época em que fazer filmes no Líbano era um desafio em termos financeiros, políticos e burocráticos, conforme depoimento disponível no Canal VB. Ele participou de oito edições do Festival, tornando frequente a representação libanesa no evento, e hoje tem sua obra significativamente inserida no Acervo Videobrasil, que conta com 11 de seus trabalhos em vídeo. Ao lado de Christine Tohme, foi curador da mostra Narrativas Possíveis – Práticas Artísticas no Líbano dentro do 14º Festival. A exposição reuniu o trabalho de nove artistas libaneses, entre eles Walid Raad, que também participa de Memórias Inapagáveis.


Zaatari fala da concepção de sua obra exibida no 11º e como a apropriação e a ressignificação de imagens podem mudar determinados imaginários culturais

Um dos mais reconhecidos artistas contemporâneos do Líbano, Zaatari é cofundador da Arab Image Foundation, dedicada a preservar a memória fotográfica do Oriente Médio, Norte da África e da diáspora árabe. Akram Zaatari representou o Líbano na 55ª Bienal de Veneza (2013) e tem obras em instituições como a Tate Gallery (Londres, Reino Unido), o Museum of Modern Art (Nova York, EUA), o Centre Georges Pompidou (Paris, França), e a Thyssen-Bornemisza Art Contemporary (Viena, Áustria).


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