Videobrasil 40

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postado em 30/09/2022
Arte contemporânea e os troféus Videobrasil

As 21 edições do Videobrasil realizadas ao longo de 40 anos tiveram em suas premiações um dos eixos mais relevantes. Com elas, o evento evidenciou seu papel de incentivador da produção artística, para muito além de ser um espaço de exposição e debate. Os eixos de premiação foram diversos ao longo do tempo, incluindo categorias que se adequaram aos contextos históricos: desde a época em que o foco do festival era apenas o vídeo até a sua expansão para as mais variadas linguagens artísticas. 

Os prêmios concedidos também foram diversos - em valores financeiros, concessão de residências artísticas, incorporação de obras em importantes coleções, entre outros -, mas sempre incluíram a entrega dos troféus produzidos pelo Videobrasil. Estes troféus, produzidos por artistas convidados, nunca foram apenas objetos de mero uso protocolar, tendo seu design atrelado aos temas e características das edições.

Mas foi especialmente a partir da 13a Bienal, em 2001, que os troféus se inseriram mais propriamente em uma estratégia de comissionamento de arte contemporânea. Segundo Solange Farkas, foi o momento em que o Videobrasil passou a olhar com mais atenção para uma produção que extrapola o universo do vídeo, da videoarte ou da arte eletrônica. A partir daí foram convidados, em ordem cronológica, os artistas visuais Carmela Gross, Raquel Garbelotti, Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Tunga, Erika Verzutti, Efrain Almeida, Flavia Ribeiro e Alexandre da Cunha.

Abaixo, veja as fotos de cada troféu e saiba um pouco mais sobre seus criadores.

 

1º AO 5º FESTIVAL | KIKO FARKAS
1983_1987

Troféu e base em acrílico 
12 x 15 x 4 cm

 

6º FESTIVAL | PAULO LABRIOLA
1988 (fundição por Marcos Mello)

Chapa de aço 
8 x 12 x 4 cm

 

7º FESTIVAL | GUTO LACAZ 
1989

Ferro e latão
28,5 x 28,5 x 9 cm

 

8º FESTIVAL | ROBERVAL LAYUS
1990

Cristal e madeira
9,5 x 27 x 9,5 cm

 

9º FESTIVAL | DÉBORA MUSZKAT
1992

Cristal
16 x 8 x 10 cm

 

10º, 11º e 12º FESTIVAL | KIMI NII
1994, 1996 e 1998

Cerâmica, metal e madeira
13 x 15 x 13 cm * versão 1
13 x 9 x 13 cm * versão 2

 

13º FESTIVAL | CARMELA GROSS
2001

Placa de metal banhada a prata
35,5 x 35,5 x 3 cm

Carmela Gross é uma das mais importantes artistas de uma geração que começou a ganhar força nos anos 1970 no Brasil. A obra de Carmela destaca-se por uma contínua investigação e experimentação de suportes e materiais, características que a tornam coerente com o momento de encontros e fusões que caracterizaram o 13º Videobrasil. A artista participou de mostras e bienais ao redor do mundo (México, Rússia, Espanha, entre outros) e tem obras nas coleções de instituições nacionais como Pinacoteca do Estado, Sesc-SP e MAC-SP e de museus internacionais como o MoMA (Nova York) e o Museum of Fine Arts (Houston).

 

14º FESTIVAL | RAQUEL GARBELOTTI
2003

Compensado, serragem e acrílico
35,5 x 35,5 x 3 cm

Raquel Garbelotti é artista e professora. Com mestrado pela Unesp e doutorado pela USP, atua como pesquisadora na área de site-specific, audiovisual e escultura. Participou de diversos eventos no Brasil e no exterior, entre eles a 25ª Bienal Internacional de São Paulo, o Panorama da Arte Brasileira (2001) e a 26ª Bienal de Arte de Pontevedra (Espanha), em 2000. No troféu para a Bienal Sesc_Videobrasil, fatias de paisagens de lugares diferentes se deslocam uma em direção à outra, se encontram e se misturam sem perder suas identidades. “Cheguei à ideia do troféu pensando sobre perda e conquista de um território, que pode ser entendido como o lugar que ocupamos."

 

15º FESTIVAL | LUIZ ZERBINI
2005

Placas de vidro, faixa de Led e madeira
50 x 28 x 7 cm

Um dos artistas que despontaram na década de 1980, partindo da cenografia e da performance, Zerbini desenvolveu sua linguagem na utilização diversificada de mídias como vídeo, escultura, fotografia, música, desenho, pintura, arte gráfica, ambientes e instalações. Criador do grupo Chelpa Ferro, em 1995, participou das 19ª e a 29ª Bienal Internacional de São Paulo, da 10a Bienal do Mercosul e de mostras na França, Holanda, China e Portugal. Entre as individuais, esteve na South London Gallery (Londres), no Mam Rio, em Inhotim, no Instituto Tomie Ohtake e no MAM-BA, entre outros. Recentemente apresentou uma grande individual no Masp. Para criar o troféu do da Bienal Sesc_Videobrasil, o artista baseou-se livremente em sua obra “Atlântico” (2004).

 

16º FESTIVAL | ROSÂNGELA RENNÓ
2007

Poster
60 x 90 cm

Rosângela Rennó apresenta um trabalho que parte da fotografia para descrever um percurso que reflete sobre os usos e lugares da imagem na subjetividade contemporânea. A artista ressignifica a função da fotografia, tanto no jogo que estabelece entre memória e esquecimento, quanto por meio da manipulação de imagens e objetos recolhidos de arquivos diversos. Participou das bienais de São Paulo, Veneza, Havana, Johannesburgo e Berlim; teve individuais na Pinacoteca, Instituto Moreira Salles e Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) e tem obras no MoMA (Nova York), Tate Modern (Londres), Reina Sofia (Madri), Inhotim e Masp. No troféu para o Sesc_Videobrasil, faz alusão ao procedimento publicitário que transforma cenas-chave dos filmes nas imagens estáticas (e emblemáticas) dos cartazes – tão antigo quanto o próprio cinema –; os troféus foram criados a partir das obras premiadas.

 

17º FESTIVAL | TUNGA
2011

Aço, cristal de quartzo, água cromatizada, resina epóxi, câmera filmadora, madeira, latão
26 x 21 x 24 cm

Uma das figuras mais emblemáticas das artes visuais brasileiras, Tunga (1952-2016) transformou objetos em elementos de performance, criando analogias entre corpo e escultura. Sua obra faz referência a diferentes áreas do conhecimento, como literatura, psicanálise e ciência. Entre suas centenas de participações em mostras no Brasil e no mundo, esteve na Documenta de Kassel, no MoMA (Nova York) e nas bienais de São Paulo, Veneza e Havana. Tem dois pavilhões individuais em Inhotim. No objeto-escultura que concebeu para a Bienal Sesc_Videobrasil, elementos de seu repertório poético - como cristal e líquido âmbar, contidos por uma malha metálica -, envolvem e intervêm no corpo e no campo de visão de uma câmera de vídeo. Com funcionamento preservado, a câmera-troféu permite experimentar um olhar interferido pelo artista.

 

18º FESTIVAL | ERIKA VERZUTTI
2013

Bronze fundido e cera colorida
14 x 15 x 20 cm

Erika Verzutti é uma artista essencial para a compreensão da prática da escultura hoje, tanto no panorama brasileiro quanto internacional. A obra de Verzutti - em papel machê, bronze, gesso, concreto e cera, entre outros - está relacionada a uma espécie de bestiário e flora tropical onde as formas orgânicas se entrelaçam: animais, frutas, totens... a maioria possuindo uma carga erótica fértil. Participou das bienais de Veneza, Genova, São Paulo, Lyon e do Mercosul e teve individuais em importantes instituições como o Centre Pompidou. O troféu da 18a edição é uma escultura em forma de romã. "A fruta foi uma escolha natural quando procurava uma forma de meu repertório conhecido e que fosse também celebratória", diz a artista. "É uma forma preciosa, muito expressiva, meio fisionômica, e associada também à sorte."

 

19º FESTIVAL | EFRAIN ALMEIDA
2015

Bronze policromado e acrílico
10 x 16 x 9 cm

Imbuídas de um sentido lírico, as esculturas de Efrain Almeida - seja em madeira, bronze ou tecido - tratam de forma sutil e silenciosa questões relacionadas ao corpo, à sexualidade e à religião. Almeida utiliza com frequência imagens da natureza, do universo mitológico e da cultura popular nordestina, deixando transparecer suas referências. Participou das bienais de São Paulo, de Havana e de Cerveira, tem obras nos acervos do Mam-SP, do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife, Brasil) e do MoMA (Nova York), entre outros. Na obra proposta para a Bienal Sesc_Videobrasil o artista atualiza um símbolo recorrente em sua produção - o olho - e transpõe traços definidores da cultura popular nacional para o contexto da arte contemporânea.

 

20º FESTIVAL | FLAVIA RIBEIRO
2017

Bronze banhado a ouro e veludo
4,5 x 8 x 10,5 cm

Flavia Ribeiro examina em seus trabalhos as possibilidades plásticas e simbólicas da matéria. O trânsito do bidimensional para o tridimensional e as relações entre corpo e espaço são centrais para a artista, que trabalha com gravura, escultura, instalação e desenho. O bronze, o látex, o estanho, a cera, madeira, gesso e veludo surgem muitas vezes em situações de contraste, quando, por exemplo, um tecido fino repousa sobre uma peça de outro material (como no troféu para a Bienal Sesc_Videobrasil), revelando ao observador o vigor das qualidades de cada objeto e potencializando seu apelo tátil. Entre suas principais mostras, Ribeiro realizou individuais na Pinacoteca do Estado, no Mam-SP e no Instituto Figueiredo Ferraz, esteve em em coletivas nos EUA, Itália, Porto Rico e Inglaterra, entre outras, e participou das bienais de São Paulo e de Istambul.

 

21ª BIENAL | ALEXANDRE DA CUNHA
2019

Banho eletrolítico de latão sobre alumínio e papel
14 x 20 x 14 cm

Alexandre da Cunha é escultor e artista visual carioca baseado em Londres. Contrapondo e mesclando materiais e através do estabelecimento de diálogos entre repertórios e objetos de diferentes origens, destinados a diferentes usos, o artista opera de forma crítica dentro de uma escala de valores que une cultura pop, modernismo e artes decorativas. Abordando os mais diversos temas, incorporou em seus últimos trabalhos humor, materiais descartados e recursos tecnológicos muito simples - por vezes incluindo a linguagem do vídeo. Participou das bienais de São Paulo, Veneza, Praga e Liverpool e teve mostras individuais em cidades como Bogotá, Bruxelas e Berlim. Suas obras estão nos acervos da Tate Modern (Londres), Museu de Arte da Pampulha, Inhotim, Coleção Cisneros e Pinacoteca do Estado. O troféu criado pelo artista para a última Bienal Sesc_Videobrasil dialoga com a ideia de sentimento nacional que o historiador norte-americano Benedict Anderson relaciona ao fim dos impérios coloniais, entre outros fenômenos, no ensaio Comunidades imaginadas.