Entrevista Lucila Meirelles, 2003

No contexto sócio-político e cultural contemporâneo, as identidades locais se reconfiguram em tensão com os fluxos globais. Inserida neste processo, a arte eletrônica participa como um campo aberto à experimentação e expressão de novas formas de subjetividade. Como essas questões se manifestam em seu trabalho?

A questão da subjetividade sempre foi à razão dos meus trabalhos, desde Pivete, 1987, Crianças Autistas, 1989, Cego Oliveira, no sertão do seu olhar, 1998, e Eu nunca esqueci, que está na competitiva da 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica, todos tratam de um olhar de dentro, mostram representações, associações poéticas da mente, resultantes de múltiplos dados que sincréticamente se estocaram e se processaram na memória, como estímulos em contaminação. Acredito que a visão interior, particular de mundo de cada individuo, é um campo aberto, imagético sonoro, a ser investigado, na construção de novas subjetividades.

No contexto de abordagem dos meios eletrônicos-digitais , interessa-lhe as questões do corpo? Como o corpo aparece em sua obra?

O corpo aparece na minha obra como um meio de decifrar a intersecção de emoções que ficaram guardadas no suporte hardware humano. É como processar uma memória que está armazenada dentro de nós, transformando-a em dados poéticos, criando um corpo expandido. Como representar a sensação de ter um umbigo? Aquilo que vem de dentro, que vem de fora do outro. O olho do corpo.

Associação Cultural Videobrasil