Manipulando transmissões televisivas dos ataques às torres gêmeas de Nova York, em 2001, e do golpe militar que derrubou o presidente chileno Salvador Allende, em 1973, a obra discute as distintas possibilidades de agenciamento da memória. Dois fatos históricos de capital importância na história — ambos ocorridos em dias 11 de setembro — são sobrepostos, justapostos e confrontados, de forma a explicitar as diferentes significações que lhes possam ser atribuídas. A chave para essa compreensão está nas formas de inscrição da memória no corpo e na experiência de vida, da qual emergem as palavras que concatenam as narrativas criadas a partir das imagens. Revela-se, assim, um processo cíclico dentro do qual a história se constrói pelas relações entre corpo, palavra, imagem e contaminação do ambiente. A voz em off (expediente recorrente na trajetória da artista) ilumina os diferentes planos narrativos e a intertextualidade que a coesão dos relatos midiáticos busca a todo custo esconder. Entretanto, a leitura particular, por vezes afetiva, efetiva-se enquanto metanarrativa e colabora para a desconstrução da própria disciplina da história, o que é característico de produções contemporâneas mais urgentes. Aqui, os traumas da vida política latino-americana permanecem paradigmáticos para as suas realidade sociais.