Texto do artista Marcelo Machado, 2003

Depoimento de Marcelo Machado sobre a obra "Das Lied Von Der Erde" Em "Das Lied Von Der Erde" eu procuro restabeler os vínculos pessoais com meu trabalho. Procuro os temas que façam sentido na forma como eu vejo o mundo ao redor. Tendo iniciado minha relação com o mundo áudio-visual quando sai da universidade em 1981, fui progressivamente me afastando do estímulo individual ou autoral como se costuma chamar. Do vídeo experimental passei para a produção independente de documentários e reportagens para a TV, depois para a televisão propriamente dita e finalmente para a publicidade. Essa progressão rumo à profissionalização foi também o afastamento dos conteúdos que faziam sentido na minha vida, universos de interesses e preocupações individuais. Quando decidi retomar o trabalho autoral, encontrei uma fita gravada por um amigo há 10 anos atrás. Eram imagens de uma senhora chinesa que mora na periferia de São Paulo. Essas imagens tinham me sido entregues por que minha mulher é chinesa e podia entender a mistura de idiomas que a sra. Sun Yuk Chin Fei fazia numa breve entrevista. Mas eu vi nessas imagens um retrato de um ciclo emblemático de vida. E junto com esse ciclo de vida um sentimento tão bem expresso na música de Mahler que eu ouvia na época. Guardei então a relação das imagens e da música no baú dos sentimentos. A edição que enviei ao VideoBrasil é a primeira etapa desse trablho que estou continuando agora na forma de um documentário, não convecional. Na Estrada de Parelheiros, a velha sra Sun ainda vive. o amigo que me entregou as imagnes, Carlos Ebert se mantem fotografando e eu casado com uma mulher chinesa e ganhando a vida com o audio-visual. Vejo nas imagens da Sra. Sun todas questões relativas aos que trocam de continente, aos que se deslocam fisicamente buscando novas formas de vida. Quando olho o corpo curvado da Sra. Sun vejo o desenho que o esforço na luta pela sobrevivência provoca. Quando mantenho uma fita de alguém que sobrevive vendendo frutas na beira da estrada depois de ter construído uma fábrica no outro lado do mundo, deixo de comprar-lhe frutas, deixo de visita-la, deixo de conhece-la . Quando não tenho vinculo direto com os conteúdos do trabalho audio-visual estou perdendo o próprio sentido dessa forma de comunicaçao ou mesmo o sentido de se comunicar. Quando não entendo o que uma pessoa fala em outro idioma posso intuir sua intenção, posso dividir com ela um sentimento ou posso ainda construir novos sentidos que ajudem a compreender a mim e aos que estão ao meu redor.