Biografia comentada Eduardo de Jesus, 05/2004
Wagner Morales (São Paulo, Brasil, 1971) Com formação em Antropologia (USP, 1992), Wagner Morales se interessou primeiramente, no campo do audiovisual, pelo documentário. Esse interesse inicial, certamente fruto de sua formação, não impede que Morales trace um caminho bastante diversificado em sua produção, que incorpora trabalhos experimentais e videoinstalações. Essas passagens entre o documentário e o vídeo experimental podem ser percebidas nos procedimentos, pouco comuns, utilizados na construção das obras, ou mesmo nas escolhas temáticas que revelam peculiares visões de mundo e do universo audiovisual contemporâneo.
Morales iniciou sua trajetória profissional em produtoras de vídeo, atuando como editor e diretor. Entre 1995 e 1997 especialização em Multimeios na Unicamp.
Entre 1998 e 2002 produziu obras (vídeos e instalações) que tematizam e refletem questões relativas às trajetórias dos corpos (humanos ou não) no espaço. O tema está presente nas videoinstalações “Bloombaalde” (1998), “Eliot” (1999) e “Rossi 22” (2002).
Já nos documentários “Olhos Opacos” (1998) e “Na Lona” (2002), Morales buscou mostrar os limites e as relações entre o corpo e o espaço que o circunda. O primeiro, realizado com o prêmio estímulo da Prefeitura Municipal de Campinas, é um sensível ensaio que mostra as relações entre a visão e a memória, o sonho e a linguagem, mistura depoimentos, textos e imagens nebulosas do cinema e do vídeo para aproximar-se do universo dos cegos.
Já o segundo, realizado com o prêmio estímulo de curta-metragem da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, mostra o ambiente do boxe amador na periferia de São Paulo. O documentário transcende a mera abordagem do esporte e revela outros traços da vida na periferia das cidades urbanas.
Ambos os trabalhos participaram de diversos festivais e mostras, entre eles o Festival É tudo verdade, em São Paulo, em 1999 e em 2003, respectivamente.
Posteriormente, entre 2000 e 2002, iniciou a produção de vídeos que se estruturam em torno de temas específicos e que são desenvolvidos em séries. Desta fase fazem parte os três vídeos que compõem a série “Não Há Ninguém Aqui”. Nesses vídeos Morales reflete sobre a impossibilidade de comunicação e encontro nas grandes métropoles. Apesar de serem trabalhos nitidamente filiados à corrente mais experimental do vídeo, guardam traços da experiência documental.
Os três vídeos mostram esses traços, mas o melhor exemplo talvez seja “Não Há Ninguém Aqui #1”. Morales publica um anúncio com um nome fictício de um homem em busca de uma namorada. O número deixado no anúncio é o da secretária eletrônica de sua casa, que recolhe muitas mensagens, quase desesperadas, de mulheres que querem deixar de ser solitárias. Estas mensagens — algumas mulheres chegaram a ligar dezenas de vezes— servem de áudio para guiar as imagens noturnas da cidade vazia produzidas do interior de um carro.
Os vídeos dessa série foram exibidos e participaram de diversos festivais, como o 13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, São Paulo; o Rio BR Festival, Rio de Janeiro; a V Bienal de Video e Novas Midias, em Santiago, Chile; o Medio@rte Latino, Berlim, Alemanha, e o VIDARTE 2002, na Cidade do México, México.
Em 2003 Morales iniciou a produção de uma nova série de vídeos temáticos. Dessa vez, aproxima-se do universo da produção cinematográfica tradicional e dialoga com os clichês da linguagem do cinema e seus gêneros. O primeiro da série é “Filme de Horror”, no qual Morales, através de um único plano, tenta recriar a atmosfera desses filmes. Posteriormente realiza “Ficção Científica” (2003), que reúne textos de diálogos do filme “Solaris” (1972), do russo Andrei Tarkovski, e sobrepõe imagens comuns a uma festa de réveillon, um corredor de hotel e a pista de dança de um clube que, recriados na edição, geram o clima de filmes de ficção científica. O vídeo recebeu o Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy no 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, o que possibilitará ao artista a oportunidade de desenvolver obra durante residência na instituição em Tourcoing, no norte da França. Nesta mesma série realizou “Cassino – Filme de Estrada” (2003), que recebeu prêmio de aquisição do Centro Cultural São Paulo. Em 2003 Morales foi premiado pelo roteiro do documentário “Preto Contra Branco” no 1º Doc TV, promovido pela TV Cultura e pelo Ministério da Cultura. Posteriormente foi premiado pela Jan Vrijman Fund, Amsterdã, Holanda, para pós-produção da versão para longa-metragem do mesmo documentário.