Debateram o tema "Televisão e Produção Independente": Augusto Gôngorra (Nueva Imagen, Chile), Jean-Marie Duhard (Canal Plus, França), Jean-Paul Tréfois (RTBF, Bélgica), Roger Karman (MTV/TV Abril, Brasil) e Rod Stoneman (Channel Four, Inglaterra). A mediação foi de Renato Barbieri (produtor independente, Brasil).

Mediação |

Texto crítico Jean-Marie Duhard, 1990

A Interface: Uma Ópera Bufa-Vídeo-Esportiva

As relações entre a televisão e a produção independente na França são muito simples e poderiam ser resumidas em poucas linhas que eu posso explicitar de forma muito pragmática, descrevendo o sistema ou o caminho a seguir a partir de um projeto de criação concebido por um artista.

Ato 1

Cena 1: Um artista escreve um projeto que deseja realizar para a televisão. Deve submetê-lo a um produtor.

Cena 2: Se o projeto agradar ao produtor, este monta um dossiê com: “sinopse, intenções do autor, segmentação, previsão orçamentária, plano de financiamento, curriculum vitae do autor, etc...”

Cena 3: Por sua vez, o produtor põe-se à cata de um meio de divulgação, ou seja, a televisão. 

Cena 4: Se o meio de divulgação-TV gostar do projeto, e desejar incluí-lo na sua programação, poderá intervir de várias formas.

Cena 5: Faz um pré-compra, pura e simples. Faz uma pré compra e uma co-produção. Sua intenção se faz acompanhar de uma carta de intenções, onde estão mencionadas, claramente, suas formas de intervenção no projeto.

Cena 6: Negocia, ao melhor preço possível, ou partes da co-produção, ou a pós-produção com os estúdios prestadores de serviços (som e imagem), com uma redução que pode variar de 20 a 50% do custo de fabricação.

Epílogo:

Na elaboração de um projeto de criação, um produtor independente investe: sua logística, seu know-how, sua competência, sua rede de conhecimento, sua reputação, mas raramente seu dinheiro, já que não o tem. Portanto, depende de todos os parâmetros citados aqui para realizar a sua produção. Em outras palavras, a produção independente tem o papel de “interface” entre artista/sua obra e o meio de divulgação/TV. Gera a totalidade da verba e realiza a execução do produto até sua entrega final. Pronto para a divulgação.

A situação ideal, para um produtor independente e para o desenvolvimento confortável de um projeto: é o financiamento puro e simples, feito por uma televisão (o que raramente acontece nos campos dos vídeos de criação). Se a presença dos produtores independentes dá a impressão de uma certa independência quanto aos seus parceiros e sistema que deve seguir, seu papel de “interface” é primordial, necessário e deve ser encorajado, a fim de evitar deslizes e para que a posição dos divulgadores não seja hegemônica na área do audiovisual.

Esse exemplo que dei é o mais comum em nosso país. Existem outros que poderiam ser objetos de peças curtas de um ato, ou de comédias bufas de cinco atos ou, pior ainda, de tragédias antigas. Será que a “Interface” é um cenário a ser produzido? Está aberta a licitação para amadores, produtores, divulgadores!

Silêncio!...Câmara!...Ação!

8th Fotoptica Internacional Video Festival. 09 a 15 de Novembro de 1990. p. 77.