Curadoria convidada |

O Departamento de Intermídia da Academia Húngara de Belas-Artes existe desde o ano acadêmico de 1990-91. O núcleo do programa de arte de cinco anos abrange o uso artístico de novas mídias na teoria/prática, ciência e tecnologia, e aspira a uma visão da arte como um todo. Em vista disso, não favorecemos nenhuma técnica, forma de arte ou ponto de vista em especial; no entanto, tentamos tornar todas as direções interpretáveis em vários aspectos. Entre os ramos cultiváveis de arte e técnicas, qualquer um pode se afigurar como possível. Ao criar o Departamento de Intermídia, nossa incumbência foi ampliar o programa de estudo artístico em direção a essas formas e técnicas de arte que foram introduzidas nas belas-artes do século 20 e que ainda não têm tradição no treinamento artístico institucionalizado de nível mais alto na Hungria: fotocinética e arte eletrônica, multimídia, instalação, arte performática e ambiental, novas técnicas de comunicação, fronteiras interdisciplinares e artísticas. Ao lado de despertar a conscientização de mudança em função da arte, a meta é desenvolver uma presença ativa e criativa na esfera cultural da sociedade da informação, além de pesquisa e apoio ao comportamento artístico cognitivo. Os trabalhos de vídeo selecionados apresentam uma visão geral das diferentes abordagens dos estudantes de intermídia: desde um ensaio subjetivo em vídeo a uma atitude estrutural, compilações, filmes retomados, documentação pessoal, narração, animação, trabalhos baseados em recursos digitais computadorizados e obras conceituais.

Miklós Peternák

Artistas

Obras

Texto de curadoria Miklós Peternák, 2003

Videoarte na Hungria - Passado e Presente

A cronologia da videoarte húngara pode ser iniciada com a palestra “Infinite Mirror-Tube”, de Gábor Bódy, apresentada pela primeira vez no Congresso de Semiótica de Tihany, em 1972. Essa palestra tinha ligação com a última parte de seu filme em 35 mm “Four Bagatelles”, que também pode ser considerado a primeira obra artística em vídeo da Hungria, uma vez que a instalação em circuito fechado foi gravada em filme preto-e-branco. Salvo por antecedentes esporádicos, pode-se dizer que a videoarte ativa teve início em meados da década de 1980. A pessoa-chave durante esses anos foi Gábor Bódy (1946-1985), cineasta e fundador da “Infermental”, primeira revista internacional sobre videocassete. A primeira edição foi lançada em 1982 em Berlim, e a primeira e única edição húngara, “Infermental III”, foi produzida pelo Studio Balázs Béla em 1984 e editada por László Beke e Péter Forgács. (Um catálogo abrangente sobre a “Infermental” 1980-1986 foi editado por Veruschka Baksa-Soós.) A maior parte da produção de videoarte até os anos 1990 estava relacionada ao Studio Béla Balázs, onde artistas e cineastas tinham acesso a equipamento profissional e a pequenos grupos experimentais e círculos universitários. Em 1988 a televisão estatal da Hungria lançou um programa mensal de variedades, o “Video World’, que teve um papel importante na disseminação de informações sobre a videoarte húngara e internacional para um público maior. Como uma espécie de ponto final do período inicial, a primeira e até hoje única exibição abrangente de vídeos foi apresentada em Budapeste, “SVB VOCE — Instalação de Vídeo Húngaro Contemporâneo”, organizada pelo Centro de Documentação de Belas-Artes da Fundação Soros em 1991.

Em 1990 “Private Hungary”, um vídeo de Péter Forgács, conquistou o Grande Prêmio do World Wide Video Festival, na Holanda. O Departamento de Intermídia foi fundado na Academia Húngara de Belas-Artes em 1990. Essa coincidência cronológica do sucesso internacional de um artista e de uma mudança institucional local nos levou ao segundo período, em paralelo a significativas mudanças políticas no Leste Europeu e a revolucionárias mudanças em todo o mundo no campo das tecnologias digitais e da comunicação. Na primeira metade da última década, durante a mudança das tecnologias de comunicação nos anos 1990, o vídeo foi relegado à periferia e quase desapareceu do discurso artístico. A mudança foi trazida pelo vídeo digital, considerado o novo desafio para a criação artística não-institucional no campo da imagem em movimento. Embora recente, jovens artistas surgiram em cena usando equipamentos digitais e a produção dos primeiros tempos chegou a uma encruzilhada em relação à sua existência física: como é sabido, as fitas magnéticas analógicas mantêm suas informações gravadas no máximo por 12-15 anos, e, uma vez que não há na Hungria uma instituição voltada à manutenção de um acervo de videoarte, os trabalhos mais significativos de períodos anteriores estão ameaçados de extinção. Diante disso, em 1999 a C3 — Center for Culture & Communication Foundation resolveu iniciar o Projeto Arquivo de Vídeo. Os objetivos do projeto da C3 Fundation são acervo completo, preservação, catalogação, arquivo, exposição e condições de distribuição dos trabalhos de videoarte húngaros, tanto on-line como off-line.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "Deslocamentos - 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil": de 22 de setembro de 2003 a 19 de outubro de 2003, p. 161 e 162, São Paulo, SP, 2003.