Adiado o lançamento do 10º Caderno Sesc_Videobrasil

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postado em 08/12/2014
Com colaborações de artistas e pesquisadores de países africanos ou da diáspora, revista trata da arte que envolve memória e história na criação de novas narrativas. O lançamento em São Paulo, que teria a presença da editora do Caderno, a curadora Elvira Dyangani Ose, e do artista Theo Eshetu, colaborador da publicação, foi adiado para 2015

Informamos o cancelamento do lançamento do Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória que aconteceria no próximo dia 17 de dezembro de 2014, na Livraria da Vila, em São Paulo. O evento, que reuniria a editora do Caderno, a curadora Elvira Dyangani Ose, e um dos colaboradores da publicação, o artista Theo Eshetu, em torno do tema desta edição, foi transferido para 2015, em data a confirmar. 

Elvira Dyangani Ose, primeira curadora estrangeira convidada a assinar a edição do Caderno, participaria de conversa sobre o tema da publicação, Usos da Memória, com o artista Theo Eshetu, um pioneiro da videoarte. O encontro seria mediado por Teté Martinho, coordenadora editorial da Associação Cultural Videobrasil.

Elvira Dyangani Ose (Espanha/Guiné Equatorial), residente em Londres, é curadora da próxima edição da Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Gotemburgo (2015), na Suécia, e ex-curadora de arte internacional da Tate Modern, em Londres (2011-2014). Para o Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória, ela reuniu sete ensaios e proposições artísticas de alguns dos mais importantes artistas e pesquisadores de países africanos ou da diáspora. Suas colaborações lidam com o contexto da massiva descolonização da África, ocorrida entre as décadas de 1950 e 1970, gerando reflexões sobre o arquivo e a história como foco da arte e da sua relação com a construção ou resgate da memória, a fim de reformular as representações históricas. “Muitos artistas contemporâneos contestam a pretensão de fidedignidade e totalidade da história, e fazem da arte um exercício de construção e/ou resgate da memória que almeja reformular a narrativa histórica. Os artistas e acadêmicos convidados para esta edição do Caderno Sesc_Videobrasil seguem essa corrente específica”, relata Elvira. Sua pesquisa se alinha e reforça a concepção de um Sul geopolítico com aporte cultural de potências particulares. “Para os colaboradores convidados para esta publicação, a arte é um álibi para reivindicar para a perspectiva individual a narrativa de uma memória coletiva”, escreve a editora no texto que apresenta e dá título ao Caderno, Usos da Memória

No lançamento da publicação, ela conversa com Theo Eshetu, que contribuiu com o Caderno com uma proposição artística de narrativa fragmentada, criada a partir do registro em vídeo de sua viagem à Etiópia como homenagem a seu avô, que pertenceu à corte do imperador Haile Selassie (1892-1975). Em Sangue. Da Luz e Semelhança, Eshetu parte de relatos pessoais que referenciam a história política, a cultura e a religiosidade etíopes. Trabalhando com arte e mídia desde 1982, Eshetu produz obras que revelam clara fascinação pela relação entre as culturas do mundo e pela natureza da imagem eletrônica. Sua obra já foi exposta na 54ª Bienal de Veneza (2011), na Tate Modern (Londres, Reino Unido), no Stedelijk Museum (Amsterdã, Holanda) e no New Museum (Nova York, EUA). Antes de se dedicar à produção artística em vídeo, na década de 1970, Eshetu foi fotógrafo reconhecido na cena do rock internacional, colaborando com artistas como David Bowie, Andy Warhol e The Velvet Underground.

A participação de Eshetu no Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória se une a de outros artistas e pesquisadores que se dedicam a produzir ou refletir sobre práticas artísticas que envolvem arquivo, memória e história em tentativas de ampliar, problematizar ou lançar novos significados sobre narrativas hegemônicas.

Outro destaque da publicação é a contribuição do The Otolith Group, duo formado por Anjalika Sagar e Kodwo Eshun, e indicado, em 2010, ao Turner Prize, maior prêmio britânico voltado às artes visuais. Explorando os legados e os potenciais das lutas pela libertação, o tricontinentalismo, os futuros especulativos e a ficção científica, The Otolith Group já exibiu seu trabalho na dOCUMENTA (13) (Kassel, Alemanha), na 29ª Bienal de São Paulo (Brasil), na Tate Britain e na Tate Modern (ambas em Londres, Reino Unido) e no Stedelijk Museum (Amsterdã, Holanda). Em Narciso de Uniforme, o grupo analisa os selos postais lançados na África na década de 1960 e afirma que tais selos “ignoravam a instabilidade dos novos estados independentes da África”. A ampla pesquisa culminou na instalação Statecraft (2014), exibida recentemente no Bergen Kunsthall (Noruega), na qual o processo de descolonização podia ser visualizado como um calendário político criado a partir de selos postais.

A artista Maryam Jafri apresenta no Caderno os ensaios visuais Getty vs. Ghana, Corbis vs. Mozambique e Getty vs. Kenya vs. Corbis, todos de 2012, nos quais contrapõe fotografias históricas idênticas encontradas nos arquivos oficiais desses países e nos acervos de agências fotográficas comerciais. “A obra examina alguns dos mais poderosos bancos de imagens do Ocidente, denunciando a forma negligente como compilam dados e manipulam fotografias, mas, sobretudo, destacando as disputas sobre propriedade entre instituições públicas e empresas privadas”, escreve Elvira na publicação.

É também sobre um acervo fotográfico que trata Um Tempo Bom, da artista e pesquisadora Emma Wolukau-Wanambwa: no trabalho, ela se debruça sobre os raros exemplares de uma série de fotografias das prisões do Protetorado de Uganda, produzida nos anos 1950 pelo governo britânico. Os arquivos haviam sido contrabandeados das colônias, então prestes a se tornarem independentes, para o Reino Unido a fim de garantir que, após a independência, as ex-colônias não tivessem acesso a informações que pudessem constranger o governo do país ou motivar disputas judiciais. Nessa proposição, segundo Elvira, é evidente­­ a “tensão que persiste na narrativa colonizador-colonizado”.

O Chimurenga é um coletivo pan-africano que se auto denomina “um objeto que muda conforme o projeto: uma revista impressa ocasional, um espaço de trabalho e uma plataforma para atividades editoriais”. Seus projetos atuais incluem o jornal trimestral Chronic; a Chimurenga Library, instalação eventual de projetos de pesquisa e arquivo on-line de iniciativas editoriais; e a Pan African Space Station, plataforma de música abrigada na internet. O Chimurenga colabora com o Caderno 10 com FESTAC ’77 – Um Projeto de Pesquisa, mapeamento do legado do 2º Festival Negro Mundial de Arte e Cultura Africana realizado em Lagos, maior cidade da Nigéria, no ano de 1977.

Dois ensaios reflexivos ampliam as questões suscitadas pela editora e pelas colaborações artísticas presentes no Caderno 10. Em Arquivando para o EsquecimentoYaiza Hernández Velázquez, professora de Estudos de Exposição e de Filosofia e Teoria da Arte na Central Saint Martins (Londres, Reino Unido), reflete sobre os motivos que fizeram do arquivo “uma questão para 
a arte contemporânea” na década de 1990. “Talvez seja melhor entendê-lo não como gênero, meio, tema ou pré-condição, mas como uma tentativa da obra de arte de escapar do lugar a-histórico para o qual havia sido tradicionalmente designada”, escreve. “O ato de arquivar não é mais o que costumava ser, tampouco a memória; aliás, nem mesmo o museu. Os arquivos antigos se erigiam como edifícios cuidadosamente protegidos, ligados à administração do poder. (...) Hoje, foram amplamente substituídos por uma massa de dados não processáveis em contínua expansão”.

Em Uma Direção Diferente: Escrevendo a História com a Engenhosidade de uma Obra de Arte, a crítica, curadora, editora e pesquisadora Tracy Murinik, especializada na produção artística contemporânea do continente africano, entrevista Premesh Lalu, professor de história e diretor do Centro de Pesquisas em Humanidades da Universidade do Cabo Ocidental na África do Sul, sobre as relações entre arte e história naquele país e no continente africano. “Acho que muitos artistas estão, de fato, mostrando como é difícil estabelecer uma conexão entre história e arte. A disciplina de história da arte é uma disciplina que batalha muito no continente africano; batalha para manter algum grau de semelhança e coerência entre essas duas configurações. Isso é tão perturbador que me parece que temos, aqui, o potencial e a possibilidade de mudar de rumo; justamente ao questionar, de uma forma diferente, a relação entre história e arte”, sugere Lalu.

O caráter pan-africano desta edição e a internacionalidade das colaborações e dos participantes convidados expandem temas abordados nas recentes edições do Caderno Sesc_Videobrasil: o Caderno 9 (Geografias em Movimento), com curadoria de Marie Ange Bordas, explorou a territorialização e as cartografias afetivas, enquanto que o Caderno 8  (Pertença), curado por Moacir dos Anjos, interrogou e ressignificou ideias de pertencimento, tratando do impasse entre a diluição de fronteiras de identidade nacional e a afirmação de especificidades culturais regionais. Questões fundamentais à Associação Cultural Videobrasil que, especialmente dedicada ao fomento, difusão e mapeamento da arte contemporânea do circuito geopolítico Sul, atua em prol de um campo artístico e cultural de regiões que precisam de novas formas de circulação e visibilidade de sua produção.

O Caderno Sesc_Videobrasil 10_Usos da Memória tem edição de Elvira Dyangani Ose, coordenação editorial de Teté Martinho e projeto gráfico  de Daniel Trench + Celso Longo. Com 144 páginas, a publicação bilíngue (português/inglês) estará à venda na Livraria da Vila – Fradique e na Livraria Virtual do Sesc São Paulo a R$ 56,00 a partir da data do lançamento.


FICHA TÉCNICA

Caderno Sesc_Videobrasil: Usos da memória
Realização do Serviço Social do Comércio e da Associação Cultural Videobrasil
Curadoria de Elvira Dyangani Ose
São Paulo: Edições Sesc São Paulo, n.10, 2014. Anual. 144 p.: il. fotografias
Bilíngue (inglês/português)
ISBN: 978-85-7995-166-4


SERVIÇO

Lançamento do Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória com conversa entre a curadora/editora Elvira Dyangani Ose e o artista Theo Eshetu, com mediação da coordenadora editorial da Associação Cultural Videobrasil Teté Martinho

QUANDO: 17 de dezembro (quarta-feira), às 20h
ONDE: Livraria da Vila – Fradique | Rua Fradique Coutinho, 893 – Vila Madalena, São Paulo
Entrada franca


SOBRE O CADERNO SESC_VIDEOBRASIL

O Caderno Sesc_Videobrasil é uma revista anual que transpõe para o meio impresso as possibilidades curatoriais contemporâneas. Cada uma de suas edições é criada por um editor convidado, que atua como um curador, construindo com autonomia um projeto editorial a partir das contribuições de artistas e teóricos, resultando em uma reflexão multifacetada, ao mesmo tempo plural e coesa, sobre um tema de relevo na atualidade.

O Caderno já teve edições desenvolvidas por Marie Ange Bordas (Caderno Sesc_Videobrasil 9: Geografias em movimento, explorando temas como territorialização e cartografias afetivas), Moacir dos Anjos (Caderno Sesc_Videobrasil 8: Pertença, abordando questões em torno da ideia de pertencimento), Rodrigo Moura (Caderno Sesc_Videobrasil 7: A Revista, que tratou do papel das publicações periódicas na arte), Fernando Oliva (Caderno Sesc_Videobrasil 6: Turista/Motorista, sobre o trânsito global das relações de poder e influência cultural), Lisette Lagnado (Caderno Sesc_Videobrasil 5: Clio, pátria, abordando o feminino na cultura), Marcelo Rezende (Caderno Sesc_Videobrasil 4: Ocupação do espaço, sobre ocupação espacial na arte), Paula Alzugaray (Caderno Sesc_Videobrasil 3: Limite, Movimentação de Imagem e Muita Estranheza, em torno do experimentalismo audiovisual), Hélio Hara (Caderno Sesc_Videobrasil 2: Arte Mobilidade Sustentabilidade, sobre os desafios da intensificação da urbanização e o acesso crescente a novas tecnologias), e José Augusto Ribeiro (Caderno Sesc_Videobrasil 1: Performance, propondo uma alternativa à história oficial do gênero da performance).


SOBRE AS EDIÇÕES SESC SÃO PAULO

Segmento editorial do Sesc, as Edições Sesc São Paulo têm em seu catálogo publicações em diversas áreas do conhecimento, com ênfase em artes e ciências humanas. Muitos desses trabalhos articulam-se com a programação artístico-cultural da instituição como uma das principais fontes de geração de conteúdos da editora. Com o intuito de expandir seu campo de ação, atendendo a um público cada vez maior, o Sesc firma-se como uma importante referência em publicações culturais no país.