Depoimento 2019

Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal

Para falar a respeito do modo como a modernização e a industrialização entendem a natureza, comecei a desenvolver trabalhos que se originaram de uma série de visitas a diversos locais, onde paisagens rurais e urbanas se encontravam. Eu estava interessada em registrar essas transições, em como essas paisagens naturais se transformam em um lugar onde a natureza é efetivamente vista como um recurso extrativista para a criação de capital. Estou interessada na ruptura entre cultura e natureza, que se originou com o modernismo, e como a natureza se tornou um produto para ser explorado ou meramente analisado e controlado pela ciência.   

Em relação à tensão entre espaço público e privado no Peru, explorei, por meio de alguns trabalhos, ideias sobre privatização da paisagem e cooptação dos recursos naturais, estudando os impactos sociais e a má distribuição de recursos. Estou interessada em acompanhar a adaptabilidade das pessoas em torno dessas condições e em como novas formas de resistência surgem a partir delas. Essas mudanças do ambiente natural acabam se integrando na paisagem cultural mais ampla. Penso que os fenômenos sociais e políticos, que acontecem em torno desses novos usos do espaço, são intrinsecamente associados à cultura e à história do lugar.

Alguns desses elementos, desses recursos, estão sempre desempenhando um papel nos meus trabalhos, como o cobre e o bambu. O cobre é um dos principais produtos da economia peruana. Somos o segundo maior produtor mundial e os maiores exportadores para a China. Utilizo o cobre como objeto que simboliza um recurso natural que vem sendo amplamente explorado e comercializado em sua forma industrial. Por meio do meu trabalho, os impactos socioambientais que as políticas de extrativismo implicam são questionados, reassociando o cobre a práticas artesanais. O bambu e o vime também são elementos que uso para criar tensão entre materiais industriais e naturais. O bambu é usado como material na construção civil, principalmente na região litorânea do Peru, na forma de painéis trançados. Por ser um material acessível, é muitas vezes utilizado para demarcar o território em invasões de terra, simbolizando um gesto de resistência contra o descaso do Estado, particularmente em relação a comunidades indígenas e pobres, e em processos constantes de apagamento cultural que surgem na esteira da globalização.

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