O vídeo explora as diferentes narrativas criadas em torno da onda de crimes homofóbicos ocorridos na cidade de São Paulo no final da década de 1980. Partindo do assassinato, em 1987, do diretor de teatro Luís Antônio Martinez Correa (irmão do encenador José Celso Martinez Correa, que mobilizou a classe artística na ocasião), a obra perscruta as opiniões, versões e impressões tanto de indivíduos engajados na luta contra o preconceito e a intolerância quanto de anônimos e pessoas comuns, pondo em perspectiva um dissenso brutal e sectário. As falas revelam a forte presença do ódio e da violência contra minorias na sociedade e no imaginário brasileiro, uma sociedade de natureza patriarcal, clientelista, católica e sexista. Inserções de imagens da cultura de massas denunciam como estas são majoritariamente endossadas pelos meios de comunicação hegemônicos e pela indústria cultural. Mas, distante da sisudez comum às militâncias, transmuta os clichês do discurso discriminatório em emblemas positivos. O trabalho é um exemplar do então chamado vídeo-documentário, gênero emergente nos anos 1980 que buscava abordar fenômenos sociais, levando em conta toda a sua dimensão interpretativa e recusando a ideia da imagem videográfica como registro neutro, por muitas vezes utilizando-se de um roteiro hiperbólico na edição seca e violenta das interlocuções ali registradas.