Biografia comentada Eduardo de Jesus, 04/2004

Angela Detanico (Caxias do Sul, Brasil, 1974) e Rafael Lain (Caxias do Sul, Brasil, 1973). Formação diversificada, experiências profissionais que não se enquadram em um só circuito e uma inquieta visão dos processos comunicacionais e artísticos que reúnem texto e imagem marcam a trajetória artística de Angela Detanico e Rafael Lain.

A habilidade com o desenho leva Rafael Lain para os escritórios de publicidade em Caxias do Sul e posteriormente ao departamento de design de uma indústria de calçados, onde entra em contato com o designer experimental de Neville Brody e outros autores através de publicações e revistas alternativas. Nesse período começa a produzir peças gráficas para um pequeno clube noturno da cidade, um ambiente sintonizado com a cultura pop e o universo musical do começo dos anos 90.

Em 1994, Lain vai de Caxias para a MTV Brasil em São Paulo e começa a trabalhar com Jimmy Leroy, com quem posteriormente passa a dividir o escritório de design Burritos do Brasil. O escritório se caracteriza por trazer novas possibilidades para a linguagem visual no circuito de publicidade.

Posteriormente, em 1996, Angela Detanico termina seus estudos em Caxias e também se junta à equipe da Burritos. O escritório não demora a ganhar espaço no mercado, começa a atender clientes como Renault, Pepsi e Adidas e desenvolve a identidade visual do Canal Brasil, primeiro canal a cabo dedicado exclusivamente ao cinema brasileiro.

Apesar da repercussão da Burritos, a natural limitação do mercado publicitário leva a dupla a uma nova experiência. Em 1998 fundam a Fêmur, um escritório de design com nítido caráter experimental e artístico, voltado ao atendimento de clientes do mercado cultural.

Durante esse período, Detanico realiza seu mestrado em Análise do Discurso na PUC de São Paulo. A pesquisa enfoca as relações de sentido entre imagem e texto, que de certa forma aponta para as passagens entre imagem, som e universo gráfico que são desenvolvidas em diversos trabalhos, mas principalmente na série de performances realizadas entre 2001 e 2003 com o Objeto Amarelo.

Trabalhos como esses já mostram um direcionamento para a experimentação que enfatiza a mistura de técnicas, suportes, possibilidades de exposição, e sobretudo o diálogo entre o circuito da arte contemporânea e o design gráfico.

Também nesse período atuam na Associação Cultural Videobrasil como membros do conselho e no desenvolvimento da identidade visual do 13º e do 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil.

Em 2001, com o desejo de ampliar sua atuação, renovar o repertório e trocar informações, participam de um workshop em Nova York com a equipe da Tomato, um dos mais importantes escritórios de design e de desenvolvimento de fontes tipográficas.

Atendendo a uma convocatória para residência artística no Palais de Tokyo, em Paris, desenvolvem o projeto Fonte/Delta. O projeto foi selecionado, permitindo a residência de oito meses na cidade e a possibilidade de pesquisar e desenvolver obras naquele espaço. Durante a residência fazem um workshop para o Vietnã, descendo o delta do rio Mekong. A experiência gera o vídeo Flatland, indicado ao Nam June Paik Awards 2004, na Alemanha.

De volta ao Brasil, participam de exposição na Galeria Vermelho, com curadoria de Lisete Lagnado. Apresentam Pilha, instalação em que empilhamentos de objetos são relacionados às letras do alfabeto.

Este ano recebem convite para participar da 26ª Bienal Internacional de São Paulo e desenvolvem a curadoria e montagem de um mostra sobre design brasileiro no centro de arte contemporânea da Femme de Buisson, em Paris. A exposição ocupa os seiscentos metros quadrados do espaço, dividido em sete salas, além de uma mostra de vídeos. O foco principal é a produção visual de jovens designers gráficos brasileiros, enfatizando os cruzamentos entre o design gráfico e outros campos da cultura contemporânea como a moda, o skateboard, a cultura hip-hop e a música pop.

O inquietante trabalho da dupla também está na representação brasileira da Bienal de Arquitetura de Veneza, neste ano. O trabalho é a fonte Utopia, que retrata o modernismo brasileiro

No próximo ano realizam a primeira exposição individual na Galeria Vermelho.