Entrevista Eduardo de Jesus, 07/2004

De onde partiu o interesse de vocês para o trabalho com as imagens?

Não sabemos exatamente, talvez porque sejamos totalmente formados por uma cultura visual, percebemos que com a construção de imagens conseguiríamos propor uma discussão, e também por uma dificuldade de criar através de palavras um trabalho com alguma qualidade de arte.

Entre as performances, instalações e fotografias que vocês desenvolvem, como se dá o processo de construção dos trabalhos em relação à escolha dos suportes? Qual o papel do vídeo nesse processo?

Acreditamos que o suporte se revela no processo do trabalho na medida em que avançamos a discussão de uma ideia. Talvez o vídeo seja recorrente no nosso trabalho por ser um meio potente, contendo tempo, imagem em movimento e som. Nos interessa também a qualidade de verossimilhança criada pela câmera de video, por trabalharmos com situações reais captadas e posteriormente alteradas. Para o  “Sem título #4” unimos a imagem captada em tempo real de uma pessoa em um balance com uma animação de uma paisagem construída sinteticamente.

O corpo aparece em muitos de seus trabalhos como quase sempre reconfigurado; como vocês veem as aproximações entre corpo, tecnologias e imagens? Existe mesmo uma possível reconstrução através do uso do processamento da imagem?

Nos interessa trabalhar a relação de um indivíduo com um ambiente, buscamos criar uma simbiose entre a figura e o seu entorno. Usamos o corpo como instrumento, mas tentando destituir da imagem a representação do próprio artista, esvaziando esse corpo de nossas características pessoais. Mas a representação do próprio artista, esvaziando esse corpo de nossas características pessoais. Mas logicamente que qualquer trabalho pode ser de alguma maneira biográfico, pois mesmo em “ Interlúdio” o besouro pode representar o criador. Muitas vezes usamos processos de manipulação digital, ou mesmo uma maquiagem para propor um corpo alterado e adaptado ao ambiente em que ele existe.

Em 2003 vocês participaram da exposição “ A subversão dos meios” , no Itaú Cultural, em São Paulo. No texto de abertura a curadora afirma que “ (...) não há como negar que o uso pouco convencional que os artistas fazem dos meios tecnológicos constitui por si um comentário crítico aos sistemas de comunicação dominantes (museus e galerias, imprensa, televisão, cinema etc.), na medida em que a arte cria dispositivos poéticos capazes de alterar a percepção das imagens e dos fatos” . Como vocês veem a relação com os meios tecnológicos? Existe efetivamente um desejo de subversão, de alteração e experimentação no processo de criação artística com o uso do vídeo e da imagem digital?

De fato buscamos não aceitar simplesmente os padrões instituídos de linguagem de vídeo, que a televisão ou o cinema, por exemplo, criaram e utilizam, mas também não queremos que o trabalho se resuma à subversão de cada meio. Assim como o suporte deve se adequar à nossa proposta, a forma como utilizamos cada meio também deve ser considerada.

O primeiro trabalho de vocês que conheci foi “ Sem título #4” (1999), na Mostra Competitiva do 13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, e, além da imagem, que parece alterar a linha do horizonte mostrando um ponto de vista bastante inusitado, o loop também me chamou bastante atenção como formato de exibição e possibilidade criativa. Como surgiram os primeiros vídeos em loop? Existe alguma referência ao tempo nesses trabalhos?

Esse formato surgiu da busca de um quadro fotográfico que representasse mais do que um instante, como se esse momento pudesse respirar. Nos nossos primeiros trabalhos usamos o mesmo ponto de vista; muitas vezes a câmera está estática, fugindo da construção, fugindo da construção narrativa de cortes, não queríamos construir um tempo linear, e dessa forma um outro tempo é apresentado. Não há começo ou fim, poderia ser um loop mas não se trata de um ciclo, é apenas a suspensão de um instante, deixando a dúvida: Em qual lugar e tempo exato o trabalho acontece? Outro fator que nos interessa é o tempo de leitura do trabalho, o espectador não é obrigado a permanecer um tempo determinado para não perder parte da apresentação. O vídeo pode ter o mesmo tempo de leitura de uma pintura.

Existe alguma conexão ou contaminação entre os trabalho que vocês desenvolvem mais voltados para a área de design e os artísticos?

Sem dúvida existe essa conexão, arte e design se alimentam um do outro, mas o nosso interesse maios visível, hoje, é trazer para o design um pouco mais de arte, e não o inverso.