Lista de obras consultadas por Clarissa Sacchelli na Videoteca do Galpão VB e usadas como referência para Boas Garotas

Deep Pressure
1984, 3’28” | Alicia Nogueira (Brasil, 1960)

Criando um aquário como cenário pela sobreposição da imagem de peixes a um fundo marítimo, uma mulher, que nele aparece imersa, interpreta um discurso cujo som teve seu timbre modificado e tornado grave a ponto de tornar seu significado ininteligível. Dançarinas, um cachorro, uma televisão e uma mulher nua no canto do cenário conferem uma atmosfera surreal à situação que, aliada à impossibilidade de compreensão do discurso da mulher, alude de modo irreverente à dificuldade da realização feminina no campo profissional. Ver trecho.

Escenarios II
2014, 15’ | Maya Watanabe (Peru, 1983)

Em espanhol, escenario significa tanto o lugar em que se desenvolvem os acontecimentos (cena) como a parte do teatro onde a cena ocorre (palco). Não há sinal de presença humana na obra senão pela constatação de que algo aconteceu — um carro abandonado pega fogo — e pelo modo como Watanabe coloca o próprio espectador no lugar de testemunha daquilo a que assiste. Em um ciclo de quatro voltas, uma panorâmica 360° mostra cenas que aludem a memórias pessoais da artista e também a acontecimentos da história recente do Peru, seu país de origem. Watanabe investiga, assim, onde começam as histórias individuais e onde elas se encontram com as narrativas coletivas. Ver trecho.

Female Sensibility
1973, 13’08” | Lynda Benglis (EUA, 1941)

O rosto de duas mulheres bastante maquiadas é enquadrado e, enquanto se submetem aos próprios beijos e carícias, torna-se cada vez mais óbvio que a câmera é o principal ponto de foco. Sua interação é silenciada pela sobreposição de ruidosa e distrativa trilha apropriada de rádio AM: piadas obscenas de apresentadores de talk show e ouvintes do sexo masculino interagindo nos rudes termos de uma masculinidade normativa. Lida à luz da teoria do “olhar masculino” do cinema feminista, a obra é uma resposta à ideia de uma sensibilidade artística distintamente feminina e uma declaração contundente sobre a política sexual que rege os atos de assistir e de desempenhar papéis.

Homenagem a George Segal
1985, 3’32” | Lenora de Barros (Brasil, 1953) e Walter Silveira (Brasil, 1955)

Homenagem a George Segal, primeiramente uma fotoperformance realizada em 1975, transformou-se, dez anos depois, na primeira videoperformance de Lenora, inspirada nas figuras solitárias e patéticas do escultor norte-americano. De frente para a câmera, a artista escova os dentes energicamente ao som de She Loves You dos Beatles. A espuma gradativamente transborda até cobrir completamente seu rosto e cabeça, conferindo-lhe um aspecto semelhante ao das insólitas figuras de gesso de Segal.

Jerk Off 2 – Projeto Dízima Periódica
2007, 1’47” | Alice Miceli (Brasil, 1980)

Prêmio Aquisição - Novos Vetores - 16º Videobrasil Integrante da série Dízima periódica, o vídeo parte do princípio matemático para visualizar uma situação intrinsecamente ligada ao limite: o processo do gozo. Homenagem ao clássico filme de Andy Warhol Blow Job.

La Profesora
1993, 9’04” | Gérman Bobe (Chile, 1963)

Uma caricatura de uma professora que ensina inglês a falantes não nativos. Seus maneirismos, seu sotaque, o conteúdo de seu discurso — todos são absurdos, à maneira dos personagens de Eugène Ionesco. As imagens da professora se intercalam com colagens, muitas vezes oriundas de outras obras de Bobe, repletas de elementos da cultura europeia presentes em cenas sensuais, símbolos religiosos, obras de arte e música erudita. Com seu humor irônico, La Profesora enfatiza o absurdo de ensinar inglês em um país onde muitos não conseguem ler sua língua nativa. A prevalência da língua inglesa nas sociedades pós e neocoloniais é, assim, questionada, tanto política como socialmente.

Rapture (Silent Anthem)
2009, 10’17” | Angelica Mesiti (Austrália, 1976)

Uma câmera de movimento extremamente lento mostra closes em alta definição de rostos de adolescentes que estão na primeira fileira de um festival de rock. Sem saber que estão sob a mira de uma câmera oculta debaixo do palco, e diante de algo que não vemos, os jovens exibem expressões de intenso fervor emocional, que remetem a imagens icônicas de êxtase religioso. Rapture (arrebatamento) opera pesquisando a fonte da catarse grupal e refletindo sobre a espiritualidade e a presença de experiências rituais na contemporaneidade. Ver trecho.

Samba #2
2014, 3’04” | Chameckilerner (Brasil, 1992)

Samba #2 analisa três imagens essenciais na cultura brasileira: o Carnaval, o samba e a bunda. Ao expor micromovimentos imperceptíveis normalmente, revela imagens novas de algo que julgamos conhecer. Abordando a cultura a partir de seu elemento mais corpóreo, o vídeo desconstrói a imagem habitual do corpo feminino e invoca questões-chave brasileiras centradas no corpo, como sexualidade, violência e beleza. Ver trecho.

Talk about body
2013, 3’49” | Hui Tao (China, 1987)

O artista se apropria da linguagem dos programas de televisão chineses para discutir a coexistência de diferentes tempos e culturas, do ambiente urbano e da vida rural, de tradições e progressos que caducam e se reinventam. Sentado em sua cama, trajado como uma mulher islâmica, ele se descreve. O vídeo discute, com sutileza e força, a aleatoriedade da ideia de pertencimento e o alheamento subjetivo intrínseco ao conceito de identidade. Ver trecho.

The Ogre
2003, 1’19” | Ip Yuk-Yiu (Hong Kong, 1974)

Fragmentos de imagens de filmes pornográficos antigos são apropriados por meio de espelhamento conferindo um aspecto caleidoscópico a este vídeo experimental. A multiplicação dos fragmentos de imagem em movimento, assim como em um caleidoscópio, cria novas formas, evidenciando ao mesmo tempo a dimensão de pura plasticidade e autoerotismo das imagens. O rosto, a boca, as mãos e demais partes do corpo passam a figurar apenas como formas vermelhas e rosadas que se redobram sobre si mesmas. Melodias aceleradas e de notas curtas interpretadas por um conjunto de cordas acompanham o ritmo de mudança das formas visuais, levando-nos a uma viagem plástica e onírica pelo sexo. Ver trecho.