Akram Zaatari Sidon, Líbano, 1966

Akram Zaatari produziu mais de quarenta vídeos, uma dúzia de livros e inúmeras instalações fotográficas, sempre abordando práticas, personagens e temas interligados e relacionados à escavação, à resistência política, à vida de ex-militantes de esquerda, à intimidade entre homens e à circulação de imagens em tempo de guerra. Zaatari desempenhou um papel fundamental na construção da infraestrutura formal, intelectual e institucional da cena de arte contemporânea de Beirute. Foi um dos poucos artistas jovens surgidos no breve período de experimentação da indústria televisiva libanesa, radicalmente reorganizada após a guerra civil no país. Cofundador da Fundação Árabe para a Imagem, uma organização pioneira liderada por artistas e dedicada a pesquisar e estudar a fotografia na região, Zaatari fez grandes contribuições ao discurso mais amplo sobre a preservação e as práticas de arquivo, sem nunca fazer concessões. Desde 2004, concentra seus estudos no arquivo do estúdio Shehrazade, fundado pelo fotógrafo Hashem el Madani. Zaatari representou o Líbano na Bienal de Veneza em 2013, participou da Documenta 13 (2012), da Bienal de Istanbul (2011) e da Bienal de São Paulo (2006). Alguns de seus trabalhos integram as coleções da Tate Modern, Centre Pompidou, Kadist, MoMA e MCA Chicago. Vive e trabalha em Beirute, Líbano.




Another Resolution 1998-2013, videoinstalação em 12 canais, 7’ Akram Zaatari

A partir de um arquivo de fotografias de crianças realizadas entre as décadas de 1940 e 1970, Zaatari propõe a amigos que reencenem algumas das poses dos meninos e meninas retratados. O resultado é exibido em uma sequência de doze projeções, em que adultos se mantêm imóveis diante da câmera, como se esta registrasse a espera que marca os segundos anteriores do disparo do seu obturador. As imagens evidenciam transformações urbanas e comportamentais ocorridas em alguns países do mundo árabe ao longo das últimas décadas, tanto no que diz respeito às performances de gênero quanto aos limites entre infância e vida adulta. A instalação é parte da ampla pesquisa empreendida por Akram Zaatari sobre a memória visual nos países árabes e foi baseada no acervo recolhido pela Fundação da Imagem Árabe.

Dance to the End of Love 2011, videoinstalação em quatro canais, 22’ Akram Zaatari

Compilação editada de vídeos postados no Youtube por rapazes de diferentes países árabes que filmam a si mesmos. Trechos provenientes do Egito, Arábia Saudita, Palestina, Emirados Árabes, Iêmen e Líbia são organizados tematicamente e mostram adolescentes e jovens se exibindo em cenas de fisiculturismo, acrobacias automobilísticas, dança, música ou emulando personagens de videogame, em fragmentos que revelam mais do que tudo a fragilidade e os momentos de descontração dos seus autores. Faz também um retrato de parte da juventude árabe tal como ela se percebia na primeira década do século 21: suas demonstrações de afeto e força, seus modos de simbolizar conflitos e de reagir às disputas da nossa época. A obra foi produzida para a exposição The Uneasy Subject, realizada no MUSAC, Espanha, e é dedicada à poeta e escritora francesa Liliane Giraudon.

Beirut Exploded Views 2014, vídeo, 28’ Akram Zaatari

Dividido em quatro partes, acompanha dois jovens que vivem entre muros de uma construção incompleta. Essa espécie de canteiro de obras abandonado é transformada por eles em um lar improvisado. Alheios à cidade, os dois jovens passam os dias sem se falar, comunicando-se apenas por seus smartphones e perambulando pelos fragmentos da construção. Agem como se habitassem um tempo suspenso, próprio, à espera de um evento externo que os tirasse dali. Comissionada pela 10ª Bienal de Gwangju, a obra explora o espaço através de sofisticados movimentos de câmera, que transitam entre os blocos de concreto e paredes por terminar. Realizado no centro de Beirute, a obra tem como cenário uma região real da capital libanesa, que mais se assemelha a uma cidade destruída, partida em fragmentos.




The End of Time 2013, vídeo, 14’14”  —   Akram Zaatari

Nesta coreografia para dois amantes, encenada por três figuras, o artista cria um retrato silenciosamente poético de romances abortados entre homens que tentam se amar e dividir seus pertences. O trabalho aborda as dinâmicas do desejo masculino como uma cadeia infinita de começos e fins, que tristemente aponta para a impossibilidade de manter viva a paixão diante do tempo e da realidade. Os encontros entre os amantes se desenrolam sempre em um espaço branco, abstrato, enquanto o som indica que outro mundo existe para além desse não-lugar, infinito como um cenário de sonho. A doação dos pertences que encerra os diálogos, no entanto, guarda uma esperança e um aceno ao futuro, representado pela conjunto de fotografias que – heranças do desejo –, um amante invariavelmente dá para o outro.

Tomorrow Everything Will Be Alright 2010, vídeo, 12’  —   Akram Zaatari

A obra apresenta um fragmento discursivo de uma história de amor que envolve saudade e esperança. A narrativa se desenrola por meio de uma intensa troca de mensagens, provocações e notas sugestivas entre dois ex-amantes, que retomam contato depois de mais de dez anos. As mensagens revelam uma tentativa de sedução, em que um busca atrair o outro para o reencontro. Apesar do medo, existe nas falas de ambos a urgência que trai o desejo de se rever. A imagem do por do sol ao fim da obra e a data escrita em camcorder – 31 de dezembro de 1999 – anunciam as vésperas de um novo tempo que ecoa a promessa do título: esqueça suas lágrimas, amanhã vai ficar tudo bem. O vídeo traz referências ao cinema egípcio e é dedicado ao cineasta francês Éric Rohmer.

Red Chewing Gum 2000, vídeo, 10’45”  —   Akram Zaatari

Em forma de carta, reflete sobre a produção de imagens e sua relação com a memória, mas também sobre o fim de um relacionamento entre dois homens. O vídeo evoca eventos passados em 1985, em meio à guerra civil, rememorando o passeio que anuncia a separação do casal. Nele, a doçura efêmera de um chiclete é metáfora para o relacionamento e a paixão, que perdem sua forma e seu gosto depois de pouco tempo. A história de separação é situada no contexto da paisagem urbana em mutação de Hamra, rua de Beirute que, até o começo da guerra civil, foi centro intelectual da cidade. O vídeo foi realizado no contexto do Hamra Street Project, projeto curado pela Ashkal Alwan (Associação Libanesa para as Artes Plásticas) que buscava refletir sobre a ascensão e a queda da famosa via, eclipsada na virada do século pelo desenvolvimento de outras regiões da cidade.