Akram Zaatari produziu mais de quarenta vídeos, uma dúzia de livros e inúmeras instalações fotográficas, sempre abordando práticas, personagens e temas interligados e relacionados à escavação, à resistência política, à vida de ex-militantes de esquerda, à intimidade entre homens e à circulação de imagens em tempo de guerra. Zaatari desempenhou um papel fundamental na construção da infraestrutura formal, intelectual e institucional da cena de arte contemporânea de Beirute. Foi um dos poucos artistas jovens surgidos no breve período de experimentação da indústria televisiva libanesa, radicalmente reorganizada após a guerra civil no país. Cofundador da Fundação Árabe para a Imagem, uma organização pioneira liderada por artistas e dedicada a pesquisar e estudar a fotografia na região, Zaatari fez grandes contribuições ao discurso mais amplo sobre a preservação e as práticas de arquivo, sem nunca fazer concessões. Desde 2004, concentra seus estudos no arquivo do estúdio Shehrazade, fundado pelo fotógrafo Hashem el Madani. Zaatari representou o Líbano na Bienal de Veneza em 2013, participou da Documenta 13 (2012), da Bienal de Istanbul (2011) e da Bienal de São Paulo (2006). Alguns de seus trabalhos integram as coleções da Tate Modern, Centre Pompidou, Kadist, MoMA e MCA Chicago. Vive e trabalha em Beirute, Líbano.
A partir de um arquivo de fotografias de crianças realizadas entre as décadas de 1940 e 1970, Zaatari propõe a amigos que reencenem algumas das poses dos meninos e meninas retratados. O resultado é exibido em uma sequência de doze projeções, em que adultos se mantêm imóveis diante da câmera, como se esta registrasse a espera que marca os segundos anteriores do disparo do seu obturador. As imagens evidenciam transformações urbanas e comportamentais ocorridas em alguns países do mundo árabe ao longo das últimas décadas, tanto no que diz respeito às performances de gênero quanto aos limites entre infância e vida adulta. A instalação é parte da ampla pesquisa empreendida por Akram Zaatari sobre a memória visual nos países árabes e foi baseada no acervo recolhido pela Fundação da Imagem Árabe.
Compilação editada de vídeos postados no Youtube por rapazes de diferentes países árabes que filmam a si mesmos. Trechos provenientes do Egito, Arábia Saudita, Palestina, Emirados Árabes, Iêmen e Líbia são organizados tematicamente e mostram adolescentes e jovens se exibindo em cenas de fisiculturismo, acrobacias automobilísticas, dança, música ou emulando personagens de videogame, em fragmentos que revelam mais do que tudo a fragilidade e os momentos de descontração dos seus autores. Faz também um retrato de parte da juventude árabe tal como ela se percebia na primeira década do século 21: suas demonstrações de afeto e força, seus modos de simbolizar conflitos e de reagir às disputas da nossa época. A obra foi produzida para a exposição The Uneasy Subject, realizada no MUSAC, Espanha, e é dedicada à poeta e escritora francesa Liliane Giraudon.
Dividido em quatro partes, acompanha dois jovens que vivem entre muros de uma construção incompleta. Essa espécie de canteiro de obras abandonado é transformada por eles em um lar improvisado. Alheios à cidade, os dois jovens passam os dias sem se falar, comunicando-se apenas por seus smartphones e perambulando pelos fragmentos da construção. Agem como se habitassem um tempo suspenso, próprio, à espera de um evento externo que os tirasse dali. Comissionada pela 10ª Bienal de Gwangju, a obra explora o espaço através de sofisticados movimentos de câmera, que transitam entre os blocos de concreto e paredes por terminar. Realizado no centro de Beirute, a obra tem como cenário uma região real da capital libanesa, que mais se assemelha a uma cidade destruída, partida em fragmentos.
Nesta coreografia para dois amantes, encenada por três figuras, o artista cria um retrato silenciosamente poético de romances abortados entre homens que tentam se amar e dividir seus pertences. O trabalho aborda as dinâmicas do desejo masculino como uma cadeia infinita de começos e fins, que tristemente aponta para a impossibilidade de manter viva a paixão diante do tempo e da realidade. Os encontros entre os amantes se desenrolam sempre em um espaço branco, abstrato, enquanto o som indica que outro mundo existe para além desse não-lugar, infinito como um cenário de sonho. A doação dos pertences que encerra os diálogos, no entanto, guarda uma esperança e um aceno ao futuro, representado pela conjunto de fotografias que – heranças do desejo –, um amante invariavelmente dá para o outro.
A obra apresenta um fragmento discursivo de uma história de amor que envolve saudade e esperança. A narrativa se desenrola por meio de uma intensa troca de mensagens, provocações e notas sugestivas entre dois ex-amantes, que retomam contato depois de mais de dez anos. As mensagens revelam uma tentativa de sedução, em que um busca atrair o outro para o reencontro. Apesar do medo, existe nas falas de ambos a urgência que trai o desejo de se rever. A imagem do por do sol ao fim da obra e a data escrita em camcorder – 31 de dezembro de 1999 – anunciam as vésperas de um novo tempo que ecoa a promessa do título: esqueça suas lágrimas, amanhã vai ficar tudo bem. O vídeo traz referências ao cinema egípcio e é dedicado ao cineasta francês Éric Rohmer.
Em forma de carta, reflete sobre a produção de imagens e sua relação com a memória, mas também sobre o fim de um relacionamento entre dois homens. O vídeo evoca eventos passados em 1985, em meio à guerra civil, rememorando o passeio que anuncia a separação do casal. Nele, a doçura efêmera de um chiclete é metáfora para o relacionamento e a paixão, que perdem sua forma e seu gosto depois de pouco tempo. A história de separação é situada no contexto da paisagem urbana em mutação de Hamra, rua de Beirute que, até o começo da guerra civil, foi centro intelectual da cidade. O vídeo foi realizado no contexto do Hamra Street Project, projeto curado pela Ashkal Alwan (Associação Libanesa para as Artes Plásticas) que buscava refletir sobre a ascensão e a queda da famosa via, eclipsada na virada do século pelo desenvolvimento de outras regiões da cidade.